Samba de dar dó (Samba di dá dó)

Ando meio para baixo

Sem palavras

Sem nada

Eu que caminhei sobre as nuvens

Hoje me escondo sob o capacho

Sou Ícaro com a pele tostada

Sou o pássaro louco dos trópicos

De outros ares

Outros sonhos e vôos

Jogo as palavras fora

Meu tempo é perdido

é outro

é ouro

de um tolo

Sou dois sem par

Um deus sem altar

Templo do ócio

Sou eu sem lugar

Sem guia

Sou sem estar

ópio

O meu amor não se compra

Minha mente não se vende

Não me encontro em qualquer esquina

Cobra não se cria:

se mata

minha cor é meu luxo

a minha mentira é doce

como as tardes ao sul do equador

minha língua é minha pátria

é mátria

é solta como as mulatas

e me inventa e me arrasta

jogando os quadris

farta

meu sangue ferve

me afoga

e meu corpo todo samba

arfa

numa nota dó

e eu me equilibro bamba

numa perna só

que tom me pinta seco e áspero?

sim é dó

é dose

de cachaça branca, pura

como as virgens pálidas

do lado de lá

A lei aqui é outra

O tambor come solto

No terreiro

Aqui batuque se come

Com farinha

Ando meio para baixo

Do equador

E não escondo

Sim, meu vôo é baixo

Minha palavra é pouca e curta

Mas meu samba

É um quadro com todas as cores do mundo...

Rafael Sampaio
Enviado por Rafael Sampaio em 11/03/2010
Código do texto: T2133579
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