AS REBARBAS DA MINHA SAUDADE

Uma farpa que descama a alma sem sossego,

fardo que parece maior que tudo no mundo,

engasgo no peito que nunca recebe sua alforria.

Aquele grito que fica entalado no sangue feito musgo em prontidão,

melodia que vai tocando, tocando, sem folga nem trégua,

sombra que aparece toda hora, até quando não foi convidada.

Aquele prato frio que comemos na solidão dos mundos,

ombro amigo que emerge na calada da noite sem avisar,

cais em que vamos descarregar nossas dores quando os demais

já não nos querem mais.

Fantasma atroz que escancara sua gargalhada-mór a cada nova respirada,

pasto que escolhemos para saciar nossa fome mais aguda,

ninho aquecido em que vamos dormir depois do dever cumprido.

Voz que nos envolve feito enxame de vespas enlouquecidas,

choro que tentar sair, mas que desiste entalado nas encostas da garganta,

chaga que esmigalha os nossos folguedos quando bem quiser.

E assim, cativos nessa barca que resiste à deriva na nossa vida,

vamos capengando atrás de unguento que nunca virá,

rebarba que quando mais retiramos, mais a teremos.

Rebarba que quando mais retiramos, mais a teremos.

Essa saudade é do meu pai, Geraldo Silbiger, que nessa madrugada de 2a. feira, 2:52h, se faz presente como nunca, como sempre.

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