CORAÇÃO VALENTE
Lá pelas seis horas da tarde
Assentado a mesa
Pensando na vida.
Vi aquela mulher cansada chegar da labuta.
Por um segundo,
Dei-me conta do tempo.
Ela mal mudou a farda,
Já descia ao quintal
Pra lavar as roupas.
Do outro lado da cerca,
Conversava com dona Madalena,
Que reclamava dos seus filhos e do Marido.
Sem perceber elas faziam da rotina uma poesia.
Enchiam e secavam,
Carregavam baldes e baldes de água,
Punham na bacia, sabão e fantasia,
Sempre falando sorriam.
Era uma alegria.
Enquanto envelhecia a juventude,
Aquela mulher,
Passava por mim,
Fazia um carinho
Seguindo para o jirau...
Lavava os pratos, as panelas
E falava comigo
Perguntava sobre o meu dia na escola.
Poucas horas já estava a beira do fogo
Fazendo o jantar.
Em qualquer dia sempre via
Aquela mulher costurar, passar e andar de um lado para o outro.
Quando se achegava a mim,
Assentava a beira da mesa,
Acendia o candeeiro
E ia me ajudar no dever de casa.
As vezes contava histórias ou cantava
Para me ninar.
Eu já dormia...
E outra vez aquela mulher,
Enfim assentava para assistir a TV,
Para rir ou chorar... também sonhava.
Pela manhã...
Nem sei se ela dormia.
Só sabia que o café estava na mesa
E ela me perguntava se eu já havia tomado banho.
Em seguida me agarrava e me levava a escola.
Naquela farda, me dava um beijo, me olhava e
Mesmo sem falar dizia profundamente eu te amo.
E o mais engraçado acontecia,
Quando eu perguntava ao colega do lado,
Se nossa mãe não dormia.
Por sua vez ele dizia:
Essas são as mulheres do Brasil.
Sem entender muito ria.
Agora beirando os trinta.
Olhando a praça do mundo em voga me pergunto:
Aquelas mulheres não cansavam?...
Mas como poderiam se permitir parar,
Se o amor para ser eterno
Precisa de cuidados.