CORAÇÃO VALENTE

Lá pelas seis horas da tarde

Assentado a mesa

Pensando na vida.

Vi aquela mulher cansada chegar da labuta.

Por um segundo,

Dei-me conta do tempo.

Ela mal mudou a farda,

Já descia ao quintal

Pra lavar as roupas.

Do outro lado da cerca,

Conversava com dona Madalena,

Que reclamava dos seus filhos e do Marido.

Sem perceber elas faziam da rotina uma poesia.

Enchiam e secavam,

Carregavam baldes e baldes de água,

Punham na bacia, sabão e fantasia,

Sempre falando sorriam.

Era uma alegria.

Enquanto envelhecia a juventude,

Aquela mulher,

Passava por mim,

Fazia um carinho

Seguindo para o jirau...

Lavava os pratos, as panelas

E falava comigo

Perguntava sobre o meu dia na escola.

Poucas horas já estava a beira do fogo

Fazendo o jantar.

Em qualquer dia sempre via

Aquela mulher costurar, passar e andar de um lado para o outro.

Quando se achegava a mim,

Assentava a beira da mesa,

Acendia o candeeiro

E ia me ajudar no dever de casa.

As vezes contava histórias ou cantava

Para me ninar.

Eu já dormia...

E outra vez aquela mulher,

Enfim assentava para assistir a TV,

Para rir ou chorar... também sonhava.

Pela manhã...

Nem sei se ela dormia.

Só sabia que o café estava na mesa

E ela me perguntava se eu já havia tomado banho.

Em seguida me agarrava e me levava a escola.

Naquela farda, me dava um beijo, me olhava e

Mesmo sem falar dizia profundamente eu te amo.

E o mais engraçado acontecia,

Quando eu perguntava ao colega do lado,

Se nossa mãe não dormia.

Por sua vez ele dizia:

Essas são as mulheres do Brasil.

Sem entender muito ria.

Agora beirando os trinta.

Olhando a praça do mundo em voga me pergunto:

Aquelas mulheres não cansavam?...

Mas como poderiam se permitir parar,

Se o amor para ser eterno

Precisa de cuidados.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 16/03/2010
Reeditado em 19/04/2010
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