FOME

A faca corta ao meio o assunto.

Na superfície da mesa

Quatro olhos celebram a esperança

Nasce um herói a cada semana.

A cabeça encolhe

Mas os olhos sonham com o McDonald´s.

A fome aposta na didática.

A realidade aposta no futebol.

A vida se disfarça de bailarina.

O destino risca um mapa.

O estômago maratoneia uma ginástica.

A dinastia do sonho esquece-se

Do domingo ao meio-dia.

Na janela do quarto uma oração.

Nos lábios um concerto triste

Lembrando uma anticanção.

No rádio a alegria convence.

A feira se disfarça de espera

E dança um xote-tango americano.

Na TV o show disfarça o momento.

No calendário uma conspiração.

No repouso dos olhos uma vingança.

Na dor um sorriso interrompe o ritual.

Na sina um sol interrompe a realidade.

A paisagem do quadro pendurado na parede

Parece mais bela pela manhã.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 26/03/2010
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