ÚLTIMO DESEJO
Quando soarem as badaladas
Anunciando a hora derradeira
Quero um momento só pra mim,
Ouvindo Mozart
E a ” Quinta Sinfonia “ de Beethoven!
Quero deliciar-me com um ballet clássico,
De preferência no Municipal,
Flutuando nos pés de Ana Botafogo.
Reler Pássaros Feridos
E compartilhar do amor frenético
De Magie e Padre Ralf!
Embriagar-me
Do Uirapuru cantando na Mata Atlântica,
No silêncio das noites estreladas
E sem luar!
Quero sentir o cheiro
Da terra molhada
Pela chuva que cai do céu.
Olhar o orvalho
Que embaça a vidraça
E brilha com os raios do sol.
Um abraço, um aperto de mão,
O sorriso de uma criança
E até a malcriação
Da sua inocência!
Ouvir Gllen Miller
Até me saciar.
Baixinho, muito baixinho
Escutaria Nelson Gonçalves e Orlando Silva
E Cinema Paradise
Assistiria novamente.
Iria ao Maracanã
Ver o meu Flamengo jogar
Rever os gols de Zico
E o gol olímpico de Petrovic
Naquele jogo que quase me mata do coração!
Pediria desculpas
Por todos os meus erros
E perdão pelas omissões.
E aos traidores
Uma videira eu deixaria.
Ao meu redor
Teria todos os meus filhos:
Os de verdade
E os do coração!
Como Dolores Duran
“Quero a rosa mais linda
Para enfeitar o Paraíso”.
Recitaria Castro Alves
E o seu Navio Negreiro
E com Augusto dos Anjos –
- o meu Poeta do Século -
Cantaria: “Toma este fósforo,
Acende o teu cigarro, a mão que afaga
É a mesma que apedreja...”
E por uma associação de idéias
Fumaria um último cigarro.
Da Souza Cruz, é claro!
No criado-mudo
Teria as “Algemas”
Que me “Tortura” (ram) a vida
Mesmo quando eu estava
De ”Olhos Vendados”
E imaginarei um violão em surdina
Numa noite de luar.
Contemplarei um crepúsculo e uma aurora
Com os olhos da imaginação.
E deixaria aos meus descendentes,
Como herança,
O exemplo de uma vida simples,
Com pouco dinheiro
Mas plena de honra e dignidade.
Aos amigos (isso existe?)
Daria um até logo
E aos inimigos (esses existem, sim)
Diria uma frase que vi
No pára-choque de um caminhão:
NÃO ME INVEJE. TRABALHE.
A /Deus eu falaria:
Perdoai-me, Senhor, porque
Não fui digna de Ti,
E repetiria até o último suspiro:
A História não me preocupa
Porque Tu me julgarás.
Marisa Alverga