O VELHO E OS POMBOS

Num dia desses qualquer,

Caminhando pelas ruas da cidade,

Observava as pessoas

E deixava o pensamento vagar.

Quando num desses pequenos acasos,

Deixei meus olhos repousarem

Numa cena que seria trivial

Se não ocultasse uma lição

Da qual jamais me esqueci

Naquele momento,

Passei a observar um grupo de pombos

Que disputava algumas migalhas de pão

Atiradas por um velho

Que parecia se divertir alimentando-as.

Muitas pessoas caminhavam ao redor,

Sem sequer notar o velho e os pombos

Cada um corria atrás de seus problemas

Sem tempo para perceber

Que na maioria das vezes

Nessa busca desesperada,

Vivem aos tropeços com as soluções.

Este é o homem moderno,

Que sem um minuto a perder,

Perde o tempo de uma vida inteira

Na busca de mais tempo,

Para mais tempo perder.

Não olham os lírios do campo

E se esquecem das aves do céu.

Foi perdido nesses pensamentos,

Que revi a imagem do velho,

Que seguia, com seu belo sorriso,

A alimentar os pombos.

Seu sorriso parecia me convidar

Criei coragem e

Comecei a me aproximar.

Ao chegar, vi em seus olhos

Que há tempos ele me observava.

Eram olhos profundos,

Tão velhos quanto o mundo

Como dois sóis brilhando sobre mim

A iluminar cada canto recôndito do meu ser

Tornando impossível ocultar-lhe alguma coisa.

Então ele me olhou docemente e perguntou:

- "Percebi que ao contrário destes que caminham ao redor,

Você parou para me observar.

Não te preocupas com o amanhã?"

Respondi que tinha mais o que fazer.

Ele sorriu-me em resposta e disse, tocando-me o ombro:

- "Então faça-o e te esqueças do dia de amanhã.

Te preocupes apenas com o dia de hoje.

E então serás para mim como estes pombos.

Parei um instante e refletia

Quando ele completou seu pensamento:

- "Jamais deixarei faltar-lhe o alimento de teus sonhos."

Roger Beier
Enviado por Roger Beier em 16/08/2006
Código do texto: T217976