O VELHO E OS POMBOS
Num dia desses qualquer,
Caminhando pelas ruas da cidade,
Observava as pessoas
E deixava o pensamento vagar.
Quando num desses pequenos acasos,
Deixei meus olhos repousarem
Numa cena que seria trivial
Se não ocultasse uma lição
Da qual jamais me esqueci
Naquele momento,
Passei a observar um grupo de pombos
Que disputava algumas migalhas de pão
Atiradas por um velho
Que parecia se divertir alimentando-as.
Muitas pessoas caminhavam ao redor,
Sem sequer notar o velho e os pombos
Cada um corria atrás de seus problemas
Sem tempo para perceber
Que na maioria das vezes
Nessa busca desesperada,
Vivem aos tropeços com as soluções.
Este é o homem moderno,
Que sem um minuto a perder,
Perde o tempo de uma vida inteira
Na busca de mais tempo,
Para mais tempo perder.
Não olham os lírios do campo
E se esquecem das aves do céu.
Foi perdido nesses pensamentos,
Que revi a imagem do velho,
Que seguia, com seu belo sorriso,
A alimentar os pombos.
Seu sorriso parecia me convidar
Criei coragem e
Comecei a me aproximar.
Ao chegar, vi em seus olhos
Que há tempos ele me observava.
Eram olhos profundos,
Tão velhos quanto o mundo
Como dois sóis brilhando sobre mim
A iluminar cada canto recôndito do meu ser
Tornando impossível ocultar-lhe alguma coisa.
Então ele me olhou docemente e perguntou:
- "Percebi que ao contrário destes que caminham ao redor,
Você parou para me observar.
Não te preocupas com o amanhã?"
Respondi que tinha mais o que fazer.
Ele sorriu-me em resposta e disse, tocando-me o ombro:
- "Então faça-o e te esqueças do dia de amanhã.
Te preocupes apenas com o dia de hoje.
E então serás para mim como estes pombos.
Parei um instante e refletia
Quando ele completou seu pensamento:
- "Jamais deixarei faltar-lhe o alimento de teus sonhos."