O maravilhoso e estranho sonho de Alice

Aqui estou estudando, que tolice

Sou Alice, deitada em meu jardim

Debaixo de uma grande sombra

Inebriada pelo cheiro de jasmim

Lendo sem compreender:

“Os Princípios do Cálculo Lógico”

Aberto na página cinquenta

Percebo uma cena que me deixa desatenta

Parecia-me, ao longe, um coelho branco

Mas tinha casaco, relógio e sabia as horas

Elegantemente trajado para o ritual britânico

“Estou atrasado, estou atrasado”; corria e berrava em pânico

Então, segui uma fumaça e me atinei com o que vi

Era uma lagarta azul ou talvez uma centopéia

Com o seu ‘narguilé’, fatiando um baralho, induzindo a platéia

Dando as cartas e indagando-me depois de um trago:

Quem é você, jovem plebéia?

Que pena, eu já não sei mais responder, estão confusas as idéias

Acho que não sou mais eu

Estou minúscula e não me lembro do que aconteceu

Não entendi, disse-me o artrópode

Era enorme e da classe dos quilópodes

Dirigindo-se a mim, com os olhos vermelhos acrescentou:

Vou lhe contar tudo o que sei sobre esse jardim; e bafejou...

Curvando-se para frente, me logrou veemente:

Eu não sei nada sobre o jardim, estou confuso, isso sim

Mas, de uma coisa não me esqueço, vou lhe falar

Se o cogumelo comer, seu tamanho irá modificar

A cada mordida, perceberá

Poderá encolher e se destrambelhar

Ou então crescer demais e gigantesca, tropeçar

Depois disto, foi-se embora sorridente a rastejar

...

Duquesa traga-me a pimenta!

Mais pimenta, mais pimenta, mais pimenta!

Cale-se! Desapareça do meu caminho!

Não vê que tento, em vão

Adormecer meu bebezinho?

O gato da casa observava tudo...

Parecia demente, mas sabia dialogar

Era charmoso, e o meu destino iria profetizar

...

Alice, o chapeleiro muito doido mora para lá

E, nesse momento, deve estar tomando seu chá

A lebre maluca habita do outro lado

Ninguém poderá lhe ajudar nesse lugar malfadado

E avisando-me isso, fez-se desintegrado

Para que lado fica o meu jardim? Deste, ou daquele lado?

Terei eu mesma que descobrir o meu rumo!

Porque só respiro enquanto durmo?

De novo o gato disse-me por sua enorme boca:

Seja louca, nunca curiosa!

Sorrateiro, cantando e balançando sua cauda, deixou-me nervosa:

As gatas que morrem são as que querem saber os segredos alheios

Que horas são nesse lugar, porque não giram os ponteiros?

Porque esse coelho não para de falar?

Não podes deter a ação do tempo...

Só poderá matá-lo e nunca mais sair desse lugar

Aqui há muitas dimensões

E o meu corpo e membros já perderam as originais proporções

Vamos, novamente é a hora do chá

Sente-se e confie-nos; nossos melhores ensejos iremos lhe ofertar

...

Essas cartas de baralho são estranhas e

Sobre escadas, tingem de vermelho as enormes castanhas

Pintam as folhas, as pedras, os peixes, as floradas, insetos e as aranhas

São as ordens da Rainha: Cortar-lhes a cabeça e todas as entranhas

Eu sou o Rei e lhe convido, jovem forasteira

Escolha seu flamingo, eles deixam o jogo mais interessante

Chegaste confiante e agora, aproveite meu convite

Nesse instante, prepare-se para uma partida de Cricket delirante

...

Quanta desobediência para uma jovem menina!

Abandonaste o jogo e insultaste nossa rainha!

Raptaste o bebê, comeste a torta e destruíste a chaminé

Por fim, quase me esmagou com seu enorme pé

Veredicto em contrafé:

Cortem sua cabeça!

Cortem sua cabeça!

Cortem sua cabeça!

Calem-se!

Já está decidido!

Abrirei meus olhos e despertarei

Sei que estou delirando

Peguei no sono e acabei sonhando

Fecho meu livro e as fórmulas vou recapitulando

É melhor voltar para casa

Pois o dia está terminando

*Baseado em: “Alice no país das maravilhas”, ficção de Lewis Caroll

Marciano James
Enviado por Marciano James em 10/04/2010
Reeditado em 25/01/2011
Código do texto: T2189555
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