BOM DIA, IRMÃO SOL...

Quando me levantei,

Um pássaro matutino já saudava a aurora

E procurava pelo Sol entre as Mangueiras e Laranjeiras,

Assoviando sua melodia no ar frio daquela hora de luz...

Também procurei no horizonte

Pelo olho do dia...

E continuei viajante,

Rodando pelo vazio...

Bem-te-vi!

Disse o outro passarinho,

Um galo cantou...

Bem-te-vi! Bem-te-vi! Bem-te-vi!

Insistia aquele um,

E todos os outros diziam também...

Do alto do poste,

O João-de-Barro parecia até bater palmas!

Ouvi a Seriema tocando a sua flauta lá no pasto...

Eu procurava, mas não via

O olho do dia,

Que todos celebravam,

Na prata do céu, no ar frio daquela manhã,

E continuei, viajante sozinho,

Sobre a minha Mãe-Terra, conduzido.

Cantei para os meus pares distantes

E tangenciei o horizonte

Até no olho do astronauta que não sabia de mim:

Bom dia!

Boa Noite!

Quantos dias e noites vês

Num único dos meus dias?

Será só isso que vês,

Já que não ouves a vida cantando,

Nem há Mangueiras e passarinhos aqui

Que te contem o que eu sei?

O que eu espero paciente na superfície,

Tu simplesmente vês tantas vezes

Nas mesmas horas

Que só me deixam

Ver uma única vez...

Mas,

Será que vês o que eu vejo?

Eu também quero ver a Estrela,

Dona do Dia,

Subir do horizonte

Com o cheiro do café que eu passo

E passar sobre mim

Até o meio-dia,

Até o cair-da-tarde,

Na espera que eu diga o que eu sei!

Vês daí as feridas elétricas

E seus humores pútridos

Manchando o Mar?

Vês daí

Os inconscientes do Oriente

E no Ocidente,

Na África,

Na Oceania,

Simplesmente matarem-se,

De tacape, de borduna,

De faca, de bomba,

Por causa da fortuna, neste novo dia?

Será que vês daí, também,

Os seus Deuses inúteis, inertes

E o mal que verte dos seus Sacerdotes insanos

E Imperadores loucos?

Ouves os Clamores,

Gritos de Gous

E os Louvores?

Ouves os choros,

Pavores,

E gritos de dor?

É daí que se vê quem produz tanto horror?

Vês e ouve seus produtores?

Estarás igual ao Sol sobre a minha cabeça,

Ou a minha irmã Lua,

Que tecem a minha poesia nua

Que despe a minha amada

Para o deleite do meu corpo

Que goza com a minha alma

O mistério desta taça?

Bom dia, Irmão Sol,

Paciente companheiro dos meus passos incertos...

Brinquemos:

Eu de andar, tu, de desenhar a minha sombra,

Feito a marionete dos meus gestos...

Boa noite, Irmã Lua,

Tu que vês quando a outra sombra,

Mais sinuosa que a minha, chega perto e

Devagar se funde a ela, atrás do calor do corpo meu,

Brinquemos:

Eu de saber, e tu, de silenciosa...

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 18/08/2006
Código do texto: T219421
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