Sonho e Vida

Brilhe o sol ou caia a chuva

seja inverno ou primavera

hei de levar meu canto

por onde quer que caminhe.

É um canto de vida

que sonhei inda criança

talvez de quando nasci

naquele sete de dezembro.

Meu canto é alegre

como um riso de criança

na festa do aniversário.

Mas por vezes meu canto é triste

triste como uma flor

esmagada sob os pés

indiferentes, ingratos.

Mas eu canto.

Canto a dor de uma criança

que um dia conheci...

a criança que vivi.

O desalento da dor

tocou-me forte na infância

ao quebrar-me o antebraço

na brincadeira de pique

em uma noite qualquer.

Com meus pais aprendi

que a crueza da vida

se pode romper com luta

mais amor e trabalho.

Este exemplo segui:

inobstante a dor

dos pés no quente da areia

em diuturnas caminhadas

para a roça eu ia.

Boné na cabeça

aos ombros o bornal

com a garrafa de café

o caldeirão de almoço

que minha mãe preparava

para a fome de meu pai.

Comida gostosa aquela:

arroz, feijão e farinha

outra vez frango, verdura,

mandioca, batata frita...

banana madura.

Criança franzina

deficiência no braço

mesmo assim eu seguia.

Sob o sol escaldante

capinava a erva daninha

da roça e do quintal

ajudava o pai

no plantio

e na colheita do arroz.

Eis que um dia o sonho

explodiu forte na mente

e em tempo descobri

não bastar-me o limite

da produção de alimento

para o corpo vegetar.

Um passo, outro passo

busquei alimentar-me o bastante

beber sabedoria

na fonte da experiência

dos produtores da história.

A escolinha de meu tio

depois o grupo escolar.

Nem a chuva ou o sol

nem o orvalho das manhãs

ou o frio do inverno

nada fez-me recuar

das primeira lições.

Chegou o fim do primário

não mais pude estudar

e no recesso da escola

fui viver outras histórias:

a do servente de pedreiro,

do balconista de bar,

do vendedor de verduras,

do lenhador com meu pai

mas também a do garoto

que nadava na barrinha

e no campinho aos domingos

com os companheiros jogava.

Outra fase do sonho

amanheceu em meu ser:

na fazenda Soledade

vi-me, súbito, professor.

O tempo – ah! O tempo!

Jamais faz concessões

e em suas ondas voltei.

Minha cidade, cidades outras

cheguei até à capital.

O admissão ao ginásio

o madureza, o supletivo

vestibulares, faculdades

de jornalismo, direito

licenciatura em economia

e o pós-graduação.

Neste caminhar vivi

o bibliotecário público

o auxiliar de escritório

correspondente de jornal

locutor de rádio, repórter...

assessor de imprensa

de Secretaria de Estado.

Fiz poemas, contos, artigos...

publiquei-os em livros

jornais e revistas.

Tive a ventura de ser

divulgador de minha terra

por onde quer que passasse:

nas faculdades, nos clubes,

nas entidades culturais

jamais neguei as raízes

do campônio que sou.

O sonho não findou:

eis-me de volta às raízes

onde a vida mês espera.

Quero a união dos amigos

dos inimigos a paz

para um mundo fraterno

podermos, juntos, buscar.

De minha vida faço lema

a educação, a cultura

a justiça social

o progresso do homem

em dimensão integral.

Busco o futuro – conquista

de tempos de liberdade

de amor e de paz.

Professor Faria
Enviado por Professor Faria em 04/06/2005
Código do texto: T21998