EPÍTOME DE UMA TARDE

Bem antes do sol se por - no córrego da tarde,

A chuva invade, sem alarde, o meu entardecer.

E, sem me dizer o porquê, diz de minha saudade,

No crepúsculo, a minha miragem, eu sem me ver.

Bebo as gotas do outono, como quem nada sabe,

Como se a chuva fosse o impasse, entre olhar e ver.

Pois do que olho, ao perceber, pouco me cabe,

Estou à parte da minha vontade, sem me desprender.

Desprezo as nuvens onde paira a liberdade...

Minhas as asas são entraves nos campos do ter.

Tenho, além da janela, o epítome de uma tarde,

Em que a chuva invade, e desmembra meu ser.

Ivone Alves SOL