subjetiva

a escrita é implícita ao cair da tarde

no vibrar do sentido discreto

há uma veia túmida por sangrar

n'amplidão do peito, abrigo dos escondidos,

o verbo é inexpressivo, irregular,

não se exprime, contém-se e

permanece cavo no tórax a intumescer as veias

os olhos: vermelhos e expressivos,

são dum rio que navega a reticência,

e pranteiam a hora calada

no isolamento da inspiração

vê-se escorrer uma gota no vitral,

é signo em prenúncio de procela

resguardo-me para a intimidade

e decifro a voragem do silêncio

que faz da escrita o fragmento agudo

a transfixar o ânimo à memória

talvez seja o perfil, mudo,

refletido na retina úmida d'olhar

que enfraquece o ardor da palavra

e lasca o contorno ressequido do desejo

tornando-o letárgico

talvez a escrita esteja para o trás, pois,

vejo-me a urdir a teia da carência

para agasalhar o frio em tramas de versos

antes da tempestade das águas