Poema do Perdão

Então eu levantei a cabeça, pai

E os meus olhos quiseram

Contemplar o incontemplável

De onde retirar a luz para te ver, pai

Se estes olhos feitos de barro e sombra

Brigaram com o infinito?

Então eu chorei, pai

No ímpeto de que a lágrima limpasse a sombra

E carregasse a sombra para o chão

Sem profanar a santidade da terra

Então eu gritei, pai

Gritei para assustar as minhas dores

Como se o grito despertasse a alma

E acendesse a luz do coração

Então eu orei, pai

Com os olhos rentes à grama eu orei, pai

Orei com a humildade do chão

Que os meus pés pisoteiam

Para a firmeza das mãos

Então me perdoei, pai

Com os dedos cravados na terra me perdoei

Das mágoas que eu tive me perdoei

E perdoei daquilo que nem sei

Então junto a mim, pai

Brotaram as papoulas e os lírios

E os meus olhos se abriram para os girassóis

E eu vi com estes olhos que queriam te ver

O ninho das estrelas, a sementeira de sonhos

Que em mim germinarão!