Quem pode lembrar?

O tempo passa

O tic-tac do relógio nos envelhece.

Há tanto tempo...

Coisa estranha o tempo,

Coisa que leva e que traz,

Mas não traz o que leva,

E os que traz serão levados.

Eu não sei, gostas das palavras, parabéns...

Das minhas? Não as tenho...

O que almejei me negastes,

Existe melhor forma de criar,

Dentro do tempo,

Uma distancia?

Uma distancia de sete mortes?

Sabe, eu não te vejo mais,

E tudo pode ter sido um sonho,

a realidade não é real,

Talvez tenha sido um pesadelo.

Não sou uma boa companhia,

Nem de aproximação,

Nem de verborragia...

Estou tão longe, estou tão pequeno, estou tão comprimido...

Meus músculos estão retesos,

Respirar tem sido muito difícil

Meu coração bate,

Não tenho nenhuma vontade de atender,

De ver quem é...

Que se vá, que me deixe, seja quem seja,

Queira dizer o que seja que esteja querendo dizer,

Tudo isso perdeu a importância,

Que se vão!

Meus amigos e minhas amigas

São pinturas de uma coisa

Que não entendo direito,

E que está sempre comigo,

Sem que eu tenha pedido,

Nem tenha completa ciência

De sua presença...

Apesar de não falar nada,

Não sei como, ignorante que sou,

Como me diz o que diz,

Mesmo que eu não queira ouvir...

Sabe, não estou bem da memória,

Parece que se chama ela

S o l i d ã o . . .

Fica comigo fiel companheira, e só.

Ela entra sem que eu permita,

Adentra meu canto mais escondido,

Mais silencioso sem que eu sinta,

Não é, mas é como que de repente

Ela aparece, mas não é.

Ela é muimuito velha,

Já devia ter até se ido,

No entanto,

Sua virtuosidade me espanta,

Está sempre comigo,

Quando meu corpo cai,

Quando se levanta...

Quando me encontrado,

E quando me perdido,

Está sempre comigo esta velha composta de muitas negações.

E quando a olho,

Sempre vejo nela muitas faces,

De gente que não vejo mais,

De sorrisos que quis fazer brotar

De afetos que quis fazer

Que quis sentir e ganhar...

Coisas assim,

E mais,

E sonhos conscientes,

Umas coisas diferentes...

Dias e noites

Estrelas e abismais negruras...

E entre tantas

Aquela tarde,

Não sei se vai se lembrar,

Não sei se podes lembrar,

Não sei se pode identificar

Aquela tarde em que você a fez aumentar...

A velha de sete mil dentes enganadores...

E em silêncio até agüento os sopapos

Que ela me dá, mas quando tu bates à entrada,

Ela revive, os dentes podres se apertam,

E a dor retrocede,

E parece que nunca mais vai parar...

Você não tem nada

para me oferecer,

Eu não tenho nada

para te dar...

Eu teria algo para te dizer,

seria, creio, algo muito importante,

mas não me lembro,

todavia quem pode lembrar?

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 22/04/2010
Reeditado em 22/04/2010
Código do texto: T2213433
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