O beijo do fantasma
Descrevo-o pela metade
Porém, sinto-o por inteiro
O forasteiro tem uma voz tão jovial
E sempre a usa para me seduzir
Ao deitar-me, apago a luz
Só assim o vejo refletir
Percebo tua presença fria
Somente à noite, nunca durante o dia
Encontra-me para um propósito que não entendo bem
Nas profundezas da escuridão de meu quarto
Aproxima-se, paralisa-me, faze-me refém
Toca o meu rosto, como um beijo do além
Não posso escapar, toda a noite acontece um ritual
Apele para o seduzido, peça socorro ou libertação
Preciso de garantias, temo por algo fatal
Apareça sob a réstia e revele a minha sina
Corpo temporário que agora luta para não ser
A todo custo, preso nesse mundo, tenta se manter
O que temos de bom?
A que lhe sirvo, qual é o meu dom?
Pelo desconhecido, estou atraído
Conhecia minhas fraquezas e usaste-as contra mim
Porque, qual o motivo das visitas constantes?
Mostre-me Senhor, porque tinha que ser assim?
Seus restos apodrecem em alguma tumba
E seu espectro vem me acariciar
Sobrenatural acalanto, estranho gesto de ninar
Aqui estou lhe aguardando
No único lugar que tinha para descansar