Flor Negra

As respostas que eu não puder me dar,

Não devem angustiar-me,

No instante, aonde repousam todas as coisas,

Basta viver e não perguntar-se.

Indagar a si mesmo quantos tempos

Cabem em um coração aflito,

Nada disso deve ser contabilizado.

São cálculos intermináveis,

Que desabrocham flores escuras.

Flores escuras no pensamento.

A cada instante o deleite de tornar-se vivo

Através das coisas que valem à pena,

Coisas que nosso coração teme

De tão boas e belas que são.

Confirmar num sorriso um não-temor,

Uma não-fuga.

Eu tenho medo de ser feliz

Como muitos tem medo da solidão.

Como muitos tem medo de escuro.

Diante desse campo vasto que é o viver

Vasto e breve, ironicamente,

Que Deus nos deu essa vastidão limitada de ser.

Para morrermos sendo vastos

Morrermos na incompletude do que poderíamos ter sido e não fomos.

Não compreendemos bem o tempo que nos assiste

Nem tampouco os caminhos a nós reservados.

Brigamos com a morte por que nos parece vir prematuramente,

Brigamos com a vida por que nos parece estar durando além do necessário.

É preciso deixar a trama completar-se

Deixar o fio entrelaçar no outro e seguir seu caminho.

Desfazer os nós possíveis

Aquecer-se com a lã bendita

Acolhendo o incerto de cada coisa

E mais o momento.

Nele tudo está

Tudo é

Tudo pode vir a ser

Nada é vão, ali naquele instante.

Se alguém puder compreender isso,

Estará salvo não por uma redenção,

Mas por um entendimento.

Em resposta a todo mistério

Aqueles que meu ser não alcança,

Tem razão quando afirma

Que o carinho de uma pessoa por nós, nos salva.

Como se num lugar muito hostil

De ventos cortantes e implacáveis

Coberto de um cinza chumbo

Uma flor pousasse sobre o nosso colo,

Trazida pelas mãos carinhosas de um desejo secreto de alguém.

Anaís
Enviado por Anaís em 21/08/2006
Reeditado em 02/09/2006
Código do texto: T221511