Flor Negra
As respostas que eu não puder me dar,
Não devem angustiar-me,
No instante, aonde repousam todas as coisas,
Basta viver e não perguntar-se.
Indagar a si mesmo quantos tempos
Cabem em um coração aflito,
Nada disso deve ser contabilizado.
São cálculos intermináveis,
Que desabrocham flores escuras.
Flores escuras no pensamento.
A cada instante o deleite de tornar-se vivo
Através das coisas que valem à pena,
Coisas que nosso coração teme
De tão boas e belas que são.
Confirmar num sorriso um não-temor,
Uma não-fuga.
Eu tenho medo de ser feliz
Como muitos tem medo da solidão.
Como muitos tem medo de escuro.
Diante desse campo vasto que é o viver
Vasto e breve, ironicamente,
Que Deus nos deu essa vastidão limitada de ser.
Para morrermos sendo vastos
Morrermos na incompletude do que poderíamos ter sido e não fomos.
Não compreendemos bem o tempo que nos assiste
Nem tampouco os caminhos a nós reservados.
Brigamos com a morte por que nos parece vir prematuramente,
Brigamos com a vida por que nos parece estar durando além do necessário.
É preciso deixar a trama completar-se
Deixar o fio entrelaçar no outro e seguir seu caminho.
Desfazer os nós possíveis
Aquecer-se com a lã bendita
Acolhendo o incerto de cada coisa
E mais o momento.
Nele tudo está
Tudo é
Tudo pode vir a ser
Nada é vão, ali naquele instante.
Se alguém puder compreender isso,
Estará salvo não por uma redenção,
Mas por um entendimento.
Em resposta a todo mistério
Aqueles que meu ser não alcança,
Tem razão quando afirma
Que o carinho de uma pessoa por nós, nos salva.
Como se num lugar muito hostil
De ventos cortantes e implacáveis
Coberto de um cinza chumbo
Uma flor pousasse sobre o nosso colo,
Trazida pelas mãos carinhosas de um desejo secreto de alguém.