indagações confluentes pungentes

Será verdade que minto?

(Quem vos fala agora?)

Não sei

Quem é quem?

O eu de fato será que existe?

O eu não será outro a cada instante,

Ou a cada intervalo de tempo?

O eu que sofre agora será o eu outro de outro momento?

Da infância por exemplo?

Da adolescência por exemplo?

Da vida adulta por exemplo?

O eu de agora terá ciência de seu tempo?

Será que ele apenas não percebeu sua morte?

Você me conheceu? Conheceu algum de nós?

Como era?

Era um livresco?

Era um sentido?

Será que era um vivido?

Um fôlego?

Um doido?

Um idealista?

Um golpista?

Quem eram?

Era apenas um?

Era um simplório?

Era um gênio?

Matemático, poeta, homem amante, objeto, ser desprezível?

O quê?

Um pai?

Um marido?

Um irmão, um filho, um via do?

Era um valentão?

Será que foi assassino?

Quem você conheceu?

Fui eu?

Eu, eu , eu?

Quem sou eu?

Eu agora?

Agora nesta exata hora?

Eu que domina os dedos e digita aqui essas coisas ?

Humm...

Era o professor?

O gari?

O garimpeiro?

Olha só:

Gari-mpeiro

Garimpava o quê?

Ainda garimpa?

Buscava o quê?

Lá em Serra Pelada

O que será que achou?

O que será que admirou?

De lá o que guardou?

Foi ouro?

Foi mais valioso que ouro ou diamante?

Será para sempre?

Ainda busca?

Quando começou a garimpar?

Quando matava gados e porcos?

Quando salgava coro e disputava neles espaço com tapurus?

Quando punha a mão na sangria do animal e sentia e aprofundava a peixeira?

E via nos olhos cercantes um brilho maligno?

Ali, aos dez anos já buscava?

Entre homens animais ele se encontrou?

E quando cortava a noite e a cidade

E se via cercado pelos outros do outro lado

E o medo comprimia seu coração?

Foi assim que temeu a solidão?

Parou de buscar?

Fugiu?

E entre as putas de pouca idade ele se encontrou?

Entre tiros de pistoleiros e homens sangrando por causa do amor de uma mulher,

De uma puta de cabaré...

Ele se interrogou sobre as faces do amor?

E quando lhe ofereceram uns sem rumos o cu

O que ele sentiu?

Ali naquela idade, sete anos, será que ele se enojou?

Apenas se interrogou?

O mundo era assim?

Cheios de seres cheios de vazios procurando se preencher em vários sentidos?

E os mortos que o acompanhavam por trinta dias exatos, para que eram?

Que há no trinta?

Que agonia era aquela?

Algum de nós já te contou?

E as putas carcomidas, chupadas e cuspidas lhe deram algum amor?

Algum afeto lhe sobrou?

Onde estavam seus parentes, a mãe e o pai que lhe gerou?

Nasceu ele de um ato de amor?

Ele era eu, eu quem sou?

Quando você fala comigo, você se interroga com quem você falou?

Foi com um garoto que olhava a estrada... Longe...

?

Foi com quem nunca se entregou?

Foi com quem sempre se rei ventou?

Foi com quem nunca se perdoou?

Foi com quem jamais vai perdoar aqueles que dele abusou?

Foi com quem travou uma guerra com a época em que aqui pousou?

Ah, me diz com quem você falou?

Foi com quem as oito fumou?

E bebeu...

E caiu...

E beijou...

Beijou como um adulto um puta de 17 por quem se apaixonou?

E achou que fosse morrer, e morreu mesmo,

E de novo o pecado ele provou?

Ela de quem nunca se esqueceu, que a leva para onde se transporta ou transportou?

Quem sou?

Quem era?

Quem serei?

Sabeis dizer?

Sou as lembranças que tenho?

Os rostos das pessoas que vi

Os lábios das bocas que beijei

Os hálitos das mulheres e meninas por quem me apaixonei?

Sou os sonhos sonhados por mim e por amigos que morreram sem terem vividos?

Sou cids como o Atra assinalou?

Ah...

(Isto é muito chato...)

Vou parar...

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 25/04/2010
Reeditado em 30/01/2013
Código do texto: T2219599
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