A massa do tempo

I

Nasci inconsciente(?)

Sem lembrar-me dos planos traçados

E sem objetivo fui carregado

Por mãos a quem me tinha confiado...

Durante algum tempo

Andei vendo sem perceber

E percebia também sem ver

E no rio invisível que corria

Eu fui largado até crescer...

Lembro-me de uma velha senhora

De olhos aspectos caucasianos

E perguntei a outros olhos daqueles filhos

Quem era aquela que eu ia lembrando

Era quem esse fulano?

Tua avó menino tecendo pano...

Hoje, muita água já passada,

Navego ainda no rio

Mas é pisando em estradas

Estradas que há dentro do rio

Para muitos, não reveladas

Sobre elas vejo todas as minhas pegadas,

Até mesmo aquelas discretas

E outras mais velhas

Apenas garatujadas...

Mas nesses caminhos todos

Muitas encruzilhadas

Andei e analisei muitas dessas auto-estradas

Auto aqui não é referente ao que se dirige

Mas sim a ter em si próprio significado

Pois de cada ângulo que se pode olhar

Muitas trilhas se mostram a mim

Ou se mostraram

E retornam a mente

Sempre em qualquer de repente...

Não é fácil andar,

As quedas sempre acontecem

E ocorrem sob tais freqüências diferentes

Muito intensas no começo

Depois mas fracamente

E se energizam de novo

Perto do fim da estadia da gente...

As estradas de que falo

Estão, como já disse, dentro de um rio,

E o rio dentro de outro,

E esse dentro de um mar,

E esse dentro de outro mar,

De maneira tal a coisa se vai tecendo

Que se torna muito difícil a ela se ir descrevendo...

Andei então, posso dizer, por muitas

Estradas, mas essas estradas de que falo

Tem vida e vontade próprias

Não se pode ir aqui por onde se queira

É necessário ter permissão...

Se quiseres saber para onde pode te levar

Certo caminho pergunta aqueles

Que de lá voltam ou voltarão...

Muitas vezes ao me pegar numa encruzilhada

Esperei pelos meus pares

A fim de ter informação sobre para onde

Determinada via podia me levar...

E aconteceu também de eu nunca deixar de esperar,

Algumas estradas nunca foram trilhadas,

E qualquer mapa que se faça delas,

Qualquer descrição é já ultrapassada...

Porém nem sempre foi ou fui assim,

Eu apenas caminhava,

E em muitos momentos,

Uns fátuos outros duradouros,

A estrada eu mesmo inventava,

Ou ela se inventava para mim

No próprio instante em que a pisava...

Descobri que há passagens e passageiros

De todos os gêneros

Pessoas, animais, plantas e pedras

Que podem se transformar em belas estradas

E palmilhar por elas pode ser

E sempre é uma experiência incomparada,

Porque tudo que existe é único

Visto que a cada coisa está ligado

Um nó na esteira do tempo,

E para sempre ali fica a marca estruturada

Com memória e emoção

Como se a vida fosse despedaçada

Em uns bilhões de bilhões

De momentos vividos e sonhados,

Imaginados ou planejados,

Planos apagados,

Coisas feitas, sentidas, ilusionadas,

Coisas existidas ou não,

Coisas apenas então,

Para que nunca ninguém pudesse dizer

Que não,

Que aquilo ou isso não lhe aconteceu,

Que assim ou tal jamais conheceu...

Nessas estradas é impossível cobri,

Disfarçar, apagar qualquer pegada,

Nem seus vestígios são temporais,

A eternidade é minha principal estrada...

II

Eu tenho que lembrar que não posso esquecer

Que a minha estrada, minhas vontades

E meus quereres são todos cheios

Apenas de coisas de mim mesmo...

Com quem posso cantar?

E se eu gritasse?

E se no grito eu me desfizesse?

E se toda energia que sou

Nesse desespero se transformasse,

Alguém em algum lugar me ouviria?

E se me ouvisse, me compreenderia?

E se me compreendesse

Me entenderia?

E se me entendesse quereria se aproximar de mim?

E se quisesse, me encontraria?

E se me encontrasse me acharia?

E se me achasse será

Que eu gostaria?

Às vezes apenas é o vazio que reina...

(pode continuar, quem sabe...)

(estou cansado, vejo tantas estradas)

Sebastião Alves da Silva
Enviado por Sebastião Alves da Silva em 26/04/2010
Código do texto: T2219765
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