Três de maio de 1962

A camioneta azul-marinho dos anos sessenta

que seu Walter Pinto (mais tarde meu padrinho)

tinha, nos levava; minha mãe gemia, meu pai cuidava

e eu queria nascer na estrada.

Na estrada de chão que liga

O Rio do Braço ao Jacarandá

Acesso à BR-415 - Chegar à Ilhéus?

Chegar à Maternidade?

Vai mesmo dar tempo de chegar?

"-Corra mais seu Walter Pinto!"

A velocidade era minha inimiga

contra a vontade eu eu nascer na estrada;

até que fui mais forte e a venci.

"-Pare o carro que já está nascendo!"

(O destino, meu único aliado,

como eu, não queria quatro paredes).

A sombra de um cacaueiro me acolheu

e me orgulho muito disso hoje,

embora não seja um fazendeiro

nem mesmo o dono daquele cacaueiro

que foi meu parteiro

perceiro de D. Silvéria dos Reis

(preta-velha - sempre as melhores parteiras)

-O cabra é macho!!!

E de cabeça pra baixo,

o pulmão rompido pelo ar puro.

Devia ter sorrido

ao invés de ter chorado,

mas acho que foi de alegria

por ter nascido assim

com a natureza ao lado!