AMOR CEGO, AMOR DIVINO
AMOR CEGO, AMOR DIVINO
_ Fora! fora,
fora do jogo humano!
Tempo de desespero,
de absoluto abandono,
fora do tempo mundano.
E o sono, sono, sono...
o sonho, uns sonhos, os sonhos... medonhos!
_ Morfeu, para quais confins me empurras?!
Oh, deus! filho de Hipno -
o apaixonado por Edimião -,
dói meu coração!
Contemplas as temíveis Horas, as Moiras...
Não vês, afinal, que estás fora,
mundo afora vivenciarás as desforras,
pois fôras vítima da pura inocência
pecaminosa dos teus Fobos desejos que te
condenam mundo afora.
Mas o longínquo se opõe ao próximo,
e, milagrosamente, os deuses ainda batem
em nossas portas, pedindo para entrar.
_ Apiedai-vos de mim, oh, Têmis!
deste que não foi amado, só desprezado.
Eis, então, a deusa! com uma venda nos olhos,
com uma balança na mão.
Deposita o corpo exangue num leito de prata
recoberto de púrpura e diz:
_ Inventas um jardim e
arranco-te a dor que te devora:
Talo... pedras e encantamentos;
Cárites... lindas e nuas. Aglae cintilante, Eufrosina, alegria no coração, Tália reflorescida,
Carpo e Cálamo...
Cala-te!
Despes a cólera, porque
os frutos renascem no outono,
as flores brotam na primavera...
... e assim será o bonfim
de desforras mundo afora
chicoteadas dentro e fora de mim.
Oh, anêmonas rosas, flores das pedras,
Evangelho de Rosas,
já afloram rosas enfim
em meu jardim!
bloom, bloom, bloom...
PROF. DR. SÍLVIO MEDEIROS
Campinas, é outono de 2006.