INACABADO

Se

no meu fingimento

morasse um homem-ator

- amigos até diriam que poeta sou -

o sentimento da fala seria dita

com nó cego na garganta

o texto desse poema

feito dia e mês

para hoje!

Seria muita cara-de-pau

- minha e do poema -

aparecermos para você vindos do nada,

como se fossemos filhos espontâneos

da cesariana com hora marcada.

Se

no meu fingimento

assinasse um homem-autor

- dedicatórias até fluiriam com facilidade –

o momento de marcar gestos gastos

com mímica, riso e diplomacia,

seria um texto cínico,

assinado, ilegível

e datado!

Seria muita cara-de-pau

- minha a dos escritos -

nos mostrarmos para a platéia em estréia

como se fossemos filhos dos elogios:

vaidade e aplauso acasalados.

Encabulada, a minha voz

gagueja soprando seu aniversário.

Assim mesmo, a poesia,

a arte mais pobre de fingimento

- a mais plausível em sentimentos -

desajeitada, cochichou cantarolada

o final inacabado do poema:

- “Parabéns, meu você!”