Dia das Mães

O silencio da noite me faz companhia

No momento em que me deixo sossegar...

Acomodo-me calmamente entregue ao pulsar da vida

Que por todo meu corpo insiste em se manifestar.

Meu escritório, cenário onde dou asas à imaginação,

Também é palco de momentos de profunda abstração.

A noite é amiga das emoções que bailam com maior desenvoltura

Quando livres da luz do dia...

Quem sabe haja aí alguma estranha alquimia

Responsável pela doce magia que a noite exerce sobre mim...

Há quem considere apenas loucura

Esta constante procura que parece não ter fim.

O perfume da Dama da Noite que mora em meu quintal,

Invade aos pouquinhos este lugar

Trazendo a lembrança de um tempo distante, quase atemporal

Onde tudo parecia ser produto de alegre fantasia,

Colorida e pulsante, e o desejo bastava para tudo se realizar

Ah! Um aroma inesquecível, que impregnou minha memória

Preenchendo as lacunas de uma história

Que ainda não sei como terminará...

Meu coração transborda o sentimento da saudade

Que sem cerimônia a minha alma invade

E que começa a me incomodar.

Durante todo o dia meu pensamento perambulou

Distraindo-se, deliberadamente, com tudo que encontrou

Fugindo da dor que ameaçava latejar

A sombra da ausência rondava meu espírito contristado

Que num ato de bravura permanecia obstinado

Determinado a não se emocionar

Assim venci cada hora deste dia

Transformando tristeza em razoável alegria

Facilitando o pulsar do coração

Subjugando o assédio da apatia

Não cedendo espaço à nostalgia

Que rouba a intensidade da ilusão.

Agora, preparando-me para dormir

Perco aos poucos o desejo de resistir

Sentindo fraquejar minha vontade

E o grito que durante o dia silenciou

Entalado na garganta que o aprisionou

Cobra o direito de se libertar

Insiste em rasgar a barreira do tempo

Como se bastasse um momento

Para o infinito alcançar...

No isolamento da madrugada

Minha alma sente a fisgada

E a saudade então começa a gotejar...

Aos poucos meus olhos se embaçam

O choro e a dor se entrelaçam

Como se jamais fossem se apartar

Sinto-me envolvida em profunda emoção

Confinada nos meandros de meu coração

Que já não consegue suportar

Por fim a noite avança

Confundindo a lembrança

Perdida na dança do amor...

Sinto-me como criança

Sozinha e sem esperança

Sussurrando apenas: Dora

Desde que foi embora

Nunca mais vivi sem dor...

Priscila de Loureiro Coelho
Enviado por Priscila de Loureiro Coelho em 10/05/2010
Código do texto: T2247768