É DA NATUREZA
É estranho não ter saudades,
Em que pese tantos cuidados
E cuidados tantos,
De até matar e até morrer,
Por suas crias
E, todavia,
Paridas
Ou
Chocadas,
Crescidas
São doadas à vida e esquecidas
Porque assim requer a natureza
Que pede nova primavera e outro ciclo...
É estranho,
Em que pese a memória,
A inteligência civilizatória, predatória,
Capaz de comer um planeta,
Não saber abrir mão das próprias crias,
Como se fossem elas, de fato, cópias de nós
Para a nossa vontade satisfazer...
Estranho esse animal sobre a Terra
Evoluído,
De tão só em sua essência,
Cria a dependência dos sentimentos:
Amor, afetividade, saudade:
Desejo de posse
Do outro ser
Que vai querer se repetir
Sabe-se lá com quem,
Sabe-se lá em quem,
Naquilo que chamará de Lar, ou não...
Vai, estranho legado da vida,
Quantas vezes procurei-me na luz dos teus olhos,
Quantas vezes te chamei de filho, filha,
Querendo achar um pouco da minha alma na tua
E matar a solidão crua da minha alma nua,
Exemplar único de mim,
E só!
Da tua plumagem às asas:
Voa, cria de ti,
Um dia procurarás nos olhos das tuas crias
A certeza que eu tenho:
Eu sou eu e tu és tu,
Só temos em comum a mesma natureza
E riremos da nossa afetividade,
Sentiremos saudades
E seguiremos sem nos tocarmos
Para sempre,
Aprendendo a sermos paralelas
Que não sabem porque
Somos assim,
Sem começo nem fim;
Sem saber porque um dia abrimos nossos olhos e
Porque também haveremos de fecha-los...