É DA NATUREZA

É estranho não ter saudades,

Em que pese tantos cuidados

E cuidados tantos,

De até matar e até morrer,

Por suas crias

E, todavia,

Paridas

Ou

Chocadas,

Crescidas

São doadas à vida e esquecidas

Porque assim requer a natureza

Que pede nova primavera e outro ciclo...

É estranho,

Em que pese a memória,

A inteligência civilizatória, predatória,

Capaz de comer um planeta,

Não saber abrir mão das próprias crias,

Como se fossem elas, de fato, cópias de nós

Para a nossa vontade satisfazer...

Estranho esse animal sobre a Terra

Evoluído,

De tão só em sua essência,

Cria a dependência dos sentimentos:

Amor, afetividade, saudade:

Desejo de posse

Do outro ser

Que vai querer se repetir

Sabe-se lá com quem,

Sabe-se lá em quem,

Naquilo que chamará de Lar, ou não...

Vai, estranho legado da vida,

Quantas vezes procurei-me na luz dos teus olhos,

Quantas vezes te chamei de filho, filha,

Querendo achar um pouco da minha alma na tua

E matar a solidão crua da minha alma nua,

Exemplar único de mim,

E só!

Da tua plumagem às asas:

Voa, cria de ti,

Um dia procurarás nos olhos das tuas crias

A certeza que eu tenho:

Eu sou eu e tu és tu,

Só temos em comum a mesma natureza

E riremos da nossa afetividade,

Sentiremos saudades

E seguiremos sem nos tocarmos

Para sempre,

Aprendendo a sermos paralelas

Que não sabem porque

Somos assim,

Sem começo nem fim;

Sem saber porque um dia abrimos nossos olhos e

Porque também haveremos de fecha-los...

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 26/08/2006
Reeditado em 26/08/2006
Código do texto: T225952
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