A paranóia de Roberto Piva
Talvez fosse 1963
E eu, ao acordar, esqueci qual era essa cidade
Qual o nome de suas madrugadas?
De onde vinham tantas precariedades?
Via anjos, chamava-os, mas eram surdos
E, dos seus ouvidos, escorriam lágrimas
Absurdo?
Crianças laicas vendendo chicletes
Isso sim é contrário à razão
E, porque não
Verei borboletas depois da descarga
Ou um cemitério em festa
A queima de orfanatos
Enfeitados de fotografias coloridas
Fragmentos dessa hemorróida gótica
Enfiarei minha cabeça no aquário fundo
E celebrarei em meio às criaturas exóticas
Cérebros e telhados desse urbano submundo
*A Roberto Piva (25/09/1937 – 03/07/2010)
Sua obra possui influência da Geração Beat americana
E é um dos precursores brasileiros da poesia experimental e onírica.