Coroa de Sonetos - Entre o céu e o inferno
Relutei em colocar, não sei se é a versão corrigida, mas verei com vagar.
I - Trilhas do Coração
As trilhas do coração são cicatrizes
Sulcos por onde fluem o amor
Embalam a vida sem diretrizes
Flutuando ao seu inteiro sabor
O chão do peito recolhe estrelas
Luzes que alumiam a estrada
Em meio as andanças sorvê-las
Pó sideral na pele entranhada
Nesse trajeto de cores astrais
Escavo vales negligentes
Em dourados trajes vestais
Um rasgo no tempo do meu alpendre
A rota nas mãos e o frio no ventre
Entre infernos e céus surpreende
II - Anjo Negro
Entre infernos e céus surpreende
O anjo negro de vestes puídas
Em noites de agonia está presente
Trazendo enganos e dores urdidas
Os céus se escondem atrás da negritude
Que riscam com raios descomunais
A ira do anjo que traz queixume
Açoitado pelos ventos abissais
Infernos e céus ora se confundem
Em arroubos de paixão e fúria
Transpassados os jardins do Édem
Abarcado no peito ao universo une
Deita os olhos no infinito
Transido de dor recolhe o anjo impune
III - Coração no Céu
Transido de dor recolhe o anjo impune
O coração dos amantes cúmplices
Ronda de êxtases que os une
Refletindo em olhares súplices
Amor de ofegante respiração
Imprime na face o desejo
Verte pelos poros até a exaustão
O néctar puro de cada beijo
Romântico transcende o real
Dentro do sonho se esmera
O apaixonado ser total
Em amor nada mais surpreende
A alma se acalma silente
E o coração para o céu se estende
IV - Amor Infernal
E o coração para o céu se estende
Para viver um amor infernal
Rasgando em brasa o nosso ventre
Amor especial simplesmente
Vaga e cala nas horas mais serenas
Traz a noite para morar no dia
Onde o imaginário tece suas cenas
Perfumadas com muita magia
Se o amor infernal não devolve
Um olhar ou um mimo qualquer
Todo o céu em resposta se revolve
Entre o céu e o inferno a batalha
Cala o coração transfigurado
E no céu se recolhe em mortalha
V - No Fio da Navalha
E no céu se recolhe em mortalha
Nas dobras do tecido do tempo
Melancolias que o vento espalha
Sobras desse amor de contratempo
O coração tem estradas derrapantes
Exibe suas curvas sinuosas
Esconde desejos contrastantes
Fala por prosas duvidosas
O coração essa quente fornalha
Exalta o amor em gritos mudos
Percorre o campo reconhece a batalha
Conveniente a irônica guarida
Dos conselhos sempre se esquiva
Embota a alma expondo a ferida
VI - Amor Solitário
Embota a alma expondo a ferida
Caminha sobre vale perverso
Abre uma nesga dolorida
Viaja pelos confins do universo
Conjuga um amor solitário
Que diante de Eros é pecado
Pois se o deus é solidário
No Olimpo esse amor é marcado
Irreverências são próprias do coração
Que é sempre pleno de tolice
É um viúvo total da razão
No olho do furacão que embaralha
O amor que se torna plenitude
Um tênue fio da afiada navalha
VII - Dor e Gozo
Um tênue fio da afiada navalha
Percorre trêmula a carne nua
Reconhece o corpo o qual retalha
Em gozo na alma perpetua
No véu negro da noite veste anseios
Provoca orgasmos infinitos
De sentir prazer não tem receios
Despe sem pudor os montes famintos
Sorve em taça de cristal o absinto
Um desejo que a carne emana
Perdido em vielas do labirinto
Quando na noite o canto berra
O corpo é só veículo servil
E o doce sabor só a alma encerra
VIII - Gosto de Céu
E o gosto sabor só a alma encerra
Famigerado o corpo delira
Revirando no leito ele berra
A alma de poesias enche a lira
Prazeres que vencem angústias
Véus que descortinam tais delícias
Um assombro de contar as minúcias
Arrebatada e feliz nas carícias
Gosto de céu desejo proibido
Momento incerto se faz festivo
Lambuzando de gozo a libido
O amor escondido não mingua
Entrego inteiro e ilícito porque
No gosto do céu passo a língua
IX - Amor e Razão
No gosto do céu passo a língua
Contorno teus lábios com meu sorriso
Desconverso tua fala ambígua
Projetando meu rosto preciso
Esboças um misto de reação
No meu colo tenho tuas mãos
Tua receita de amor razão
Que se prende nos meus desvãos
Dentro do coração a delicadeza
Longe dos borralhos do inferno
Um imenso céu de beleza
No meu peito a ansiedade se encerra
Abre fendas agonizantes
Se piso sobre o inferno na terra
X - Taça de Fel
Se piso sobre o inferno na terra
Forro de muitas nuvens o coração
Porque minh´alma as dores enterra
Deixando luzir a branca emoção
A ilusão do sonho faz a esperança
Viver em eterna lua-de-mel
De rotina só mesmo a lembrança
Dos enjôos ante a taça de fel
Coração de desejos escondidos
Expõem a arte que não têm
Emoldura beijos esculpidos
Tanto desejo já me criou íngua
Tantos os sabores proibidos
Na boca aos poucos o beijo míngua
XI - Fênix
Na boca aos poucos o beijo míngua
Se não saio depressa desse coma
Mato os desejos da minha língua
Que em mil sabores me toma
A alma presa no teu regaço
Esbarro nos rochedos do teu mar
Flutuando em ondas de sargaço
Só tateando pelo teu sonhar
Pego carona nesse marulhar
Preciso te amar bem de pertinho
Acalentada em teu arrulhar
Tenho de ti lembrança rouca
Muitas misturas da minha libido
Não me importa parecer meio louca
XII - Meio Louca
Não me importa parecer meio louca
Ter idílios no ilícito ninho
Passear pelo céu da tua boca
Colecionar páginas de carinho
Quero te pintar na minha paisagem
Nas minhas peças mais íntimas
Me inspirar na tua miragem
Ouvir tuas confissões últimas
Ter de ti uma única gota
Pode até parecer muito ruim
Me faz menos louca, mais marota
Os teus encantos moram no meu céu
Se deparo com o inferno na terra
Envolvo o meu corpo em teu fino véu
XIII - Quebrantos
Envolvo meu corpo em teu fino véu
Saltitando entre alguns espasmos
Fluidos de ti meu único réu
Para te absolver entre orgasmos
Ré confessa também sou envolvida
Se entre teus lábios eu me perdi
Nos teus quebrantos pedi guarida
Tenho as marcas do muito que aprendi
Mereço muitos anos de tua prisão
Beber amor no teu cativeiro
Sem direito a apelo da decisão
Engulo poesias na ânsia louca
Alimentando a minha paixão
Se a trouxa as vezes parece pouca
XIV - Anjo ou Demônio
Se a trouxa as vezes parece pouca
Toco os sinos do campanário
Violo as leis me faço de mouca
Desvio teus olhos do itinerário
Transito entre o céu e o inferno
Vivo no infinito e rastejo na terra
Oscilo entre o ser mortal e o anjo eterno
Sou a paz que o meu coração desterra
Sou o eterno de mim, o começo e o fim
Sou criatura vil e insinuante
Misto de diaba e querubim
Sou o que se chama caso sério
Luta, fala, dor, amor e paixão
Sou a alma do amor e do mistério
Do Inferno ao Céu
Do inferno é um pulo para o céu
Se a trouxa as vezes parece pouca
Envolvo o meu corpo em teu fino véu
Não me importa parecer meio louca
Na boca aos poucos o beijo míngua
Se piso sobre o inferno na terra
No gosto do céu passo a língua
E o doce sabor só a alma encerra
Um tênue fio da afiada navalha
Embota a alma expondo a ferida
Que no céu se recolhe em mortalha
E o coração para o céu se estende
Transido de dor recolhe o anjo impune
Entre infernos e céus surpreende