O OCASO DAS VONTADES
Quero dar-te um presente.
Um mimo, um brinde, uma prenda...
Quero dar-te coisas grandes, disfarçadas de pequenas.
Um elefante indiano de porcelana.
Um guarda-chuva escocês.
Dias de sol para descansar na sombra.
Um quadro.
Uma máquina de tirar retratos.
Um espelho.
Um esquadro.
Um rato que não corra do gato.
Um compasso.
Um abraço.
Uma caneca colorida de café.
Uma leiteira de ágata.
Café descafeinado.
Bom dia com sorrisos.
Sempre um ‘por favor’, ‘muito obrigado’.
Um pote de mel.
A ilusão de céu.
Do camelô, um anel.
Um tubo de cola.
Meu coração rasgado, picado.
Colo.
Uma bússola.
Um mapa.
Um destino.
Quero te dar abrigo.
Flores.
Cores.
Uma festa de sabores.
Minha voz desafinada cantando no chuveiro.
Quero dar-te dias inteiros.
Um televisor na garantia.
O indecifrável da poesia.
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in "Uma Ordem Natural das Coisas" - pág.33