A beira do abismo

Durma comigo à beira do abismo

Sem cinismos trago-lhe a maré

Tenha fé, às margens do túmulo preparado

Por mim; quebrados foram os sacros objetos

Antes, faça deles uso profano, enfim...

Entre excrementos e dejetos, ervas e enganos

Galhos, árvores vivas, mas secas; não há definidas estações

Extinguiu-se o Sol desse hemisfério e os verões; mistério?

A Lua está morta, órbitas insanas; constatações

Nuvens se desintegraram entre fumaças negras

Fome que mata e mata aos poucos, estabelece-se a verdade

Cidades que se odeiam e criam porcos em varas, por vaidade

Nos jardins do poder cultivam-se ambições psicóticas; dissociadas searas

Terras secas, rios turvos e disciplinantes raivas

Afrouxam-lhes os dentes, lhes inflamam as gengivas

Extinguem-se as assembléias por dispersão dos membros

Corrupção, depravação e devassidão, açucares e cáries

Corpos de inimigos e hostes tornam-se poeira na desoladora paisagem

Enquanto as almas ardem nas chamas das fogueiras

Espectros surgem arrastando-os para a beira...

... Do abismo que dormimos juntos, à margem

Marciano James
Enviado por Marciano James em 11/06/2010
Reeditado em 25/01/2011
Código do texto: T2314326
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