ODE À LUA

Ó lua dos amantes,

deusa eterna dos céus,

musa de almas errantes

senhora dos sonhos meus;

revela-me a face do sonho,

os lábios inebriantes

num semblante risonho

de olhares ofuscantes.

Ó lua dos apaixonados,

espelho de intensa união,

barca de deuses amados,

alvo da minha ilusão;

mostra-me o rumo do amor,

os prazeres encantados

de um coração com ardor,

de dois corpos enlaçados.

Ó lua dos navegantes,

rosto da dor da partida,

guia dos caminhantes,

semente do cosmos parida;

traz-me o sonho de amar,

sem sofrer terebrantes,

dá-me a paixão de enlaçar,

põe meus braços enleantes.

Ó lua dos indigentes,

anjo que por todos vela,

aura dos seres ausentes,

ser que queremos tê-la;

dá-me a alegria que faz

transformar todas as mentes,

alastrar ao mundo a paz

e amar todas as gentes.

Ó lua dos escritores,

adorada luz dos poetas

que cantam os seus louvores

na tinta de suas canetas;

dá-me sempre inspiração,

seja no meio de estertores,

de risos, abraços, paixão,

ou das mais sentidas dores.

Ó lua dos inocentes,

clamor daqueles que sofrem,

esteio das almas decentes,

gemido de seres que jazem

confiando que reveles

ignomínias indecentes,

também as obras daqueles

que sempre estão presentes.

Ó lua de todos nós,

refúgio de sonhadores,

corpo celeste veloz,

penhor de nossos amores;

guia-nos rumo à luz,

ao sonho de nossos avós,

com teu poder que seduz

até o ser mais feroz.

Ouvi este brado, ó lua,

ouvi este nosso clamor...

grito de paz que atroa

tornando a guerra em amor;

e com tua aura divina

transforma o som que ecoa:

és bela, és feminina,

és elo do amor, és Lua.

Sintra, 13/08/2006

António CastelBranco
Enviado por António CastelBranco em 03/09/2006
Código do texto: T231895