Trecho de "A chave"

Um dia... Apenas isso!...
Versos em diagonal sentido... Muitos traçados iguais... Paralelas marias.
Quantas sílabas direcionadas para o mesmo ideal... Gostos e planos... Todos em diferentes tamanhos.
Lacunas... Lápides... Visgos e mórbidos rabiscos.
Ventos me levem!... Cortem as cabeças dos fósforos!... Bálsamos que escorrem pelas frestas.
Ousadia eu correr de mim?... Que façam diamantes das pedrinhas de vidro... Só eu fico...
Andei pelas ruas... Saltei de uma para outra à procura de um incenso... Uma lâmpada... Ou qualquer coisa que aqueça... O frio quebra os ossos... Alimenta as bochechas de um vermelho queimado... Serena as madeixas... Viro vidraça de uma estação.
Tramei o fio mais denso... Fiz o cachecol de lágrimas... Ouvi o sinal dos sinos... E o sol apareceu pequenino.
Ameaço jogar-me da ponte... Com pedras dentro dos bolsos... Assim, a literatura agarra-me... Assim posso colher todas as farpas.
Um dia... Apenas isso!...
Como tantos... Como mais um... Olhadas as dobraduras... Um barco que naufraga.
Caminhei, com as mãos dentro dos bolsos... Sempre acho papéis dentro da gabardine de lã...
Quem sabe um dia eu encontre o endereço de volta...


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