contratempo
da vez última, teu corpo era dor
à face, os olhos como cálices
contidos das pupilas em desalinho
prestes a lacrimarem num cristalino antigo
como o olhar de menino perdido...
deitei tua dor entre as mãos
acalentei a tremura, ninei tua angustia
junto a minha e aqueci o teu frio
ao calor fraterno deste peito
e percebi, em teus cabelos,
que alvura estava ali, a envolver
o desassossego do teu pensar
que doía, à volta da manhã solitária
vi o amor minguar em tua face
e a alma, saindo-te pelos olhos
à janela entre aberta
o retrato do ocaso, no horizonte,
em declínio
ficaste para sempre
antes do pôr do sol
...
.