F(B)ESTA

F(B)ESTA

E seguem o tempo e a vida da madrugada...

É lixo a cidade

em meio à luxúria bestial do clima da Copa,

movida apenas pela força da brutalidade.

Agora a lua paira no céu,

a noite espantou a bárbara festa do povaréu.

Padre, ó Padre!

Que festa é esta?

De repente a manada desembesta, e por um gol, quase um bombardeio, massas aos berros, zumbidos de toda sorte: eis o mundo sem rumo, sem norte! Ruídos intermitentes de buzinas nas desmedidas procissões de carros trafegando e traficando, sem mais, o combustível cancerígeno pelas ruas das cidades, pelos labirintos de concreto e ferro desconectados da ordem cósmica...

e a flora e a fauna, ambas escassas e quase caladas, aterrorizadas pela festa dos alienígenas, dos ferozes e dos atrozes abduzidos pelo mal radical, emudecem ainda mais.

Padre, ó Padre!

Sim, estremecem de horror, cá, as minhas flores, os meus animaizinhos, o meu jardim; choram os meus ciprestes, os meus cravos, os meus lírios brancos, as minhas camélias, o meu belo ipê; lamentam os meus livros: interrompem os sinos da campana, a lição de Quintana, o meu silencioso vício da leitura; martelam os meus nervos. Lá, bem distante, até mesmo a neve branca, apavora.

Padre, ó Padre, que festa é esta?

TVs-tenentes devoram, latindo gols, gols, gols...

E entre goles, mais goles, outro gole,

desaparece indignada a nobre Vestal, prometendo futuras sombras,

e ao bando de bestas, caricatura de um mundo caduco,

a todos os habilidosos pobres-diabos, produtores sem pudores da macabra festa, não lhes cabe compreender, ver ou sentir o regozijo de uma Festa, de aplaudir os próprios atos, pois apenas desejam intensamente o insólito, morrer em conflito, aflitos.

Padre, Padre, que festa é esta?

Padre, Padre!

Faz descer dos céus o descontrole das horas terrenas sobre a violência controlada e obstinada depositada nas massas iradas a delirar com entusiasmo e fúria os destinos da festa da besta.

Padre, Padre!

Eu só entendo da festa das magias, das poesias, das pinturas, das flores, das pazes, das orações, das danças, dos cantos, dos amores, das alegrias, das melodias, das pequenas felicidades...

Ah, Padre, Padre!

Estes meus dias... juro que jamais sentirei saudades do pesadelo do mundo de agora.

Prof. Dr. Sílvio Medeiros

Campinas, é início de inverno de 2010.