A ÚLTIMA CANÇÃO(Dona Raimundinha)
Naquela manhã,
Naquela manhã...
Ainda pude ler os seus olhos.
Ouvir a sua voz,
Em verbos, em sons...
Em sopro de vida.
Naquela manhã,
Toquei sua pele,
Vi a constituição da velha mulher.
Senhora cabocla,
Guerreira, faceira,
Que não se intimidava.
Em todas as línguas proseava.
E no amor, como ninguém sempre se doava.
Naquela manhã,
Em silêncio a terra vazia herdava a tua dor,
Eu da janela, sem poder ir, porque não era hora apenas admirava
Teus passos, as flores, o teu jeito, sem medo
De encarar o que nunca a gente entenderá.
Naquela manhã,
Que já era tarde tu resumias o teu mundo a quem compreendia.
Dizendo sempre que não eras Maria, mas fostes a mãe de cada dia.
Teu sorriso, tua paz... Um espírito que ascendia em obras que não se perdia,
Na imensa saudade, vazia que deu lugar
A lei da vida dos teus filhos, amigos e irmãos.