embalagens

ainda que saudade fosse palavra vazia

e a distancia não fosse circunstancial

não sentiria falta de mim pois que estou perto

ainda assim eu não me pouparia dos olhares servis

de sinistros balconistas e operadores de caixa em supermercados

ainda que me faltasse a capacidade de respirar

esses tantos perfumes artificiais

ainda assim não sairia eu a quebrar toscos frascos

ainda que eu não confiasse nos rótulos dos produtos

simetricamente dispostos nestas prateleiras

com data de validade e tudo, ainda assim eu os consumiria

não é a laranjeira plantada no quintal que está longe

é a minha mão num braço curto que não alcança

não é a palavra menstruada querendo se libertar em mim

feito pulgas de suburbio em alguma casa de massagens

sou eu e meu espírito que sangra de cansaço neste limbo

a sorte exteriotipada emerge em meus olhos

refletem imagens que amo e desamo em mim mesma

não há noite nem dia nem cores nem nada

só o sol em minha retina doente do peso da carga

sinonima, antonima, homonima

não há verbos nesses templos sem palavras

nem há palavras nestes tempos sem verbo

e antes que eu me perca ou me encontre por ai

de ida ou volta para dentro ou fora de mim

envolvo-me em papéis

faço-me e desfaço-me em partículas

e se por horas chove

é que não há gatos nos telhados

Suzane Rabelo
Enviado por Suzane Rabelo em 23/06/2010
Reeditado em 23/06/2010
Código do texto: T2337314