embalagens
ainda que saudade fosse palavra vazia
e a distancia não fosse circunstancial
não sentiria falta de mim pois que estou perto
ainda assim eu não me pouparia dos olhares servis
de sinistros balconistas e operadores de caixa em supermercados
ainda que me faltasse a capacidade de respirar
esses tantos perfumes artificiais
ainda assim não sairia eu a quebrar toscos frascos
ainda que eu não confiasse nos rótulos dos produtos
simetricamente dispostos nestas prateleiras
com data de validade e tudo, ainda assim eu os consumiria
não é a laranjeira plantada no quintal que está longe
é a minha mão num braço curto que não alcança
não é a palavra menstruada querendo se libertar em mim
feito pulgas de suburbio em alguma casa de massagens
sou eu e meu espírito que sangra de cansaço neste limbo
a sorte exteriotipada emerge em meus olhos
refletem imagens que amo e desamo em mim mesma
não há noite nem dia nem cores nem nada
só o sol em minha retina doente do peso da carga
sinonima, antonima, homonima
não há verbos nesses templos sem palavras
nem há palavras nestes tempos sem verbo
e antes que eu me perca ou me encontre por ai
de ida ou volta para dentro ou fora de mim
envolvo-me em papéis
faço-me e desfaço-me em partículas
e se por horas chove
é que não há gatos nos telhados