Aparas

Angélica T. Almstadter

Em que parte de mim me uso?

Onde acho as pontas do fio desse casulo?

Sei onde aparo minhas arestas,

Como sei onde encontras minhas frestas.

Escolhi as bordas do inferno

Para delas observar o infinito que me cobre;

Assim, nem toda escuridão é eterna.

Onde e quando me anulo

Nas tramas trocadas desse abuso?

Toma meus jardins, adentra meus átrios,

Que me permito, em soltos fragmentos;

Comer a poeira desse redemoinho

Para permitir a paz do polimento.

Habito as entranhas de um vulcão,

Tenho gumes afiados e olhos de águia,

Deixo a superfície para os enfeites,

Para os breves aceites,

E envolvo em cadeados as portas da baia.

É nas profundezas, onde os elos se fundem,

Que os rasgos são mais doloridos e se confundem,

Que se formam os maremotos;

Onde não alcançam os olhos da carne,

Onde se purificam as origens,

No abalo das estruturas,

Permitindo grandes rupturas

No vigor de se saber varrer a alma,

Aí é que se instalam as transformações.

Não pelo prazer único de ser o que se come,

O que se veste, o que se tem;

O ser pelo existir somente não preenche.

A pluralidade de se ser único;

Está na particularidade de saber ser

Inteiro, constante e livre;

Sabido e querido, sem porém.

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 24/01/2005
Reeditado em 24/01/2005
Código do texto: T2343
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