A ira do espelho

A ira do espelho

Sandra Ravanini

Ouvir o sopro da boca que encerra

esse instante incolor da amada face,

silenciando o espanto, o vazio que nasce,

amordaçando o amanhã e a primavera.

É quando o caos declara o amor à guerra,

deixando para trás a ira do espelho,

amansando os lábios quase vermelhos,

descorando a fala e o grito de espera.

Amar ainda mais a dama da noite,

guerreira só e bela ante a flor da vida,

bebendo o brilho da lágrima caída

desse outro olhar fugindo dos açoites.

A estrela feita de águas e ternura

derrama a flor na boca adormecida,

enquanto o caos declama o amor à vida,

soprando o brilho ao vazio da gravura.

04-06-2010