Teodicéia
Penei em tentar acreditar, desde a origem
Do meu ser por alguém dividido,
Nas palavras, nos gestos, nas boas manhãs,
Sem arfar de desgosto:
Nenhuma esperança a mim,
Muito menos a você.
Seus bons movimentos de gentileza,
Sua grossa e trêmula voz de atrevimento
Não foram suficientes.
Perguntei a Deus, em diversos coros,
Com infinitas vozes de cada um dos meus eus-líricos
Em dúvidas e em grandiosas tentativas
De driblar a insensatez.
Então, soberano, me disse:
“Filha: conhece-te a ti mesmo.
Tu és capaz de suportar um governo medíocre
E de rir de uma piada medíocre.
Em tua mediocridade tens a capacidade
De dissertar a respeito das mediocridades artísticas
E de defender a mediocridade de dissertá-las.
Mas não és, sem titubear, já que Sou Deus,
Capaz de guardar, neste teu reinado
Um sentimento medíocre de amor:
Por ele, queres doar até mesmo teus guardiões
E não sabes entregar-te a quem não te põe
Da ansiedade e da dor os grilhões...”
Ó Deus, eis-me aqui.