Teodicéia

Penei em tentar acreditar, desde a origem

Do meu ser por alguém dividido,

Nas palavras, nos gestos, nas boas manhãs,

Sem arfar de desgosto:

Nenhuma esperança a mim,

Muito menos a você.

Seus bons movimentos de gentileza,

Sua grossa e trêmula voz de atrevimento

Não foram suficientes.

Perguntei a Deus, em diversos coros,

Com infinitas vozes de cada um dos meus eus-líricos

Em dúvidas e em grandiosas tentativas

De driblar a insensatez.

Então, soberano, me disse:

“Filha: conhece-te a ti mesmo.

Tu és capaz de suportar um governo medíocre

E de rir de uma piada medíocre.

Em tua mediocridade tens a capacidade

De dissertar a respeito das mediocridades artísticas

E de defender a mediocridade de dissertá-las.

Mas não és, sem titubear, já que Sou Deus,

Capaz de guardar, neste teu reinado

Um sentimento medíocre de amor:

Por ele, queres doar até mesmo teus guardiões

E não sabes entregar-te a quem não te põe

Da ansiedade e da dor os grilhões...”

Ó Deus, eis-me aqui.

Maria Clara Dunck
Enviado por Maria Clara Dunck em 11/09/2006
Código do texto: T237660
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