Danos

Quis escrever em prosa todas as minhas inclinações

Esquecendo que por ela já levo toda a minha vida,

Num existencialismo não mais que infundado,

Menosprezando a métrica e calcando nas calçadas

Toda o restante da poesia.

Mas quem precisa de poesia é aquele que diz,

Num diálogo com a própria tristeza,

Que se ralaciona amigavemente

Com os pequenos prazeres da vida.

O restante já nasceu com ela

Pois não se conformam:

Não se amam nem se condenam.

Os pequenos prazeres se reduzem ao tédio

Pois exigem um grande sentimento.

Ingratidão - lhe dizem entre uma concha de dedos,

E eu digo que sou só mais uma, ou duas.

Quero venerar alguém na vontade desumana

De me anular.

Mas só consigo prestar atenção em mim mesma.

E ninguém aparece pra dizer que o que falta aqui

É o que nunca tive depois

Do meu completo abandono

De sonhos.

Maria Clara Dunck
Enviado por Maria Clara Dunck em 11/09/2006
Código do texto: T237918
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