Danos
Quis escrever em prosa todas as minhas inclinações
Esquecendo que por ela já levo toda a minha vida,
Num existencialismo não mais que infundado,
Menosprezando a métrica e calcando nas calçadas
Toda o restante da poesia.
Mas quem precisa de poesia é aquele que diz,
Num diálogo com a própria tristeza,
Que se ralaciona amigavemente
Com os pequenos prazeres da vida.
O restante já nasceu com ela
Pois não se conformam:
Não se amam nem se condenam.
Os pequenos prazeres se reduzem ao tédio
Pois exigem um grande sentimento.
Ingratidão - lhe dizem entre uma concha de dedos,
E eu digo que sou só mais uma, ou duas.
Quero venerar alguém na vontade desumana
De me anular.
Mas só consigo prestar atenção em mim mesma.
E ninguém aparece pra dizer que o que falta aqui
É o que nunca tive depois
Do meu completo abandono
De sonhos.