Vestidos de barro

Não tínhamos medos.

Tínhamos a gana de nos devorar.

As vestes, únicas,

rasgávamos com os dentes,

e depois com as mãos.

E ríamos loucos.

E ríamos apaixonados.

Em nós, a chuva, só fazia molhar.

Morta estava a rua.

Apenas a lua e o céu

E talvez os olhos de Deus sobre nós.

Grunimos palavras desconexas

E famintos de corpos nos enlameávamos

da cabeça aos pés.

Querias tudo e tanto de mim!

Querias tudo e tanto de ti!

Assim passamos a noite xafurdando

loucos a intimidade do outro.

Não vimos quando o dia amanheceu

Ou quando a vida nos olhava perplexa.

O sol ardia nosso corpo

E caminhamos plural diante dos olhos

Que nos seguiam vestidos de barro.