multiverso

trancada num compartimento que mal me cabe

arrasto-me entre as fezes e catarros

excrementos deixados com a dor e os ratos

restos da dignidade de torturados enlouquecidos

sirvo-lhes chá adoçado com mel

abro frestas num porão, sem sol

onde nem há casa no térreo

e a escada vai dar no sótão

não existem janelas

só velhos baús de cerejeira

guardando retratos de mortos

assustando a vizinhança

vivendo entre outros fantasmas

fantasmas que aprendi a amar

abro o portal e os encontro

num mundo que desconhecem

sou eu o espectro entre eles

enquanto toco seus universos

não vêem a mim, fazem-me outra

tão felizes em suas matizes

tenho gatos por companhia

e sou a louca que rega as plantas

e alimenta com ossos os seus cães

enquanto absolve suas fúrias senis

Suzane Rabelo
Enviado por Suzane Rabelo em 18/07/2010
Reeditado em 21/07/2010
Código do texto: T2385818