multiverso
trancada num compartimento que mal me cabe
arrasto-me entre as fezes e catarros
excrementos deixados com a dor e os ratos
restos da dignidade de torturados enlouquecidos
sirvo-lhes chá adoçado com mel
abro frestas num porão, sem sol
onde nem há casa no térreo
e a escada vai dar no sótão
não existem janelas
só velhos baús de cerejeira
guardando retratos de mortos
assustando a vizinhança
vivendo entre outros fantasmas
fantasmas que aprendi a amar
abro o portal e os encontro
num mundo que desconhecem
sou eu o espectro entre eles
enquanto toco seus universos
não vêem a mim, fazem-me outra
tão felizes em suas matizes
tenho gatos por companhia
e sou a louca que rega as plantas
e alimenta com ossos os seus cães
enquanto absolve suas fúrias senis