rinha
sou galo sem crista e espora
nascida, não perdi emboscada
não preciso nem tenho terreiro
sou galo de espelho, janela e chuveiro
moro com um leão-de-montanha
e outro bicho solto, que avoa
sou galo de telhado, à toa
sou galo que o canto atordoa
gosto de milho e farinha
como feijão com mostarda
tenho de vime um poleiro
prefiro dormir na lareira
lugar mais quentinho da casa
não tenho amigos nem dono
mas, tenho tino e respeito
não sou domada nem domo
eu já cresci desse jeito
se a coisa aperta até penso
mesmo sem medo sem nada
não sou de galinheiro, me aprumo
tomo distancia, abro asa
e se algum outro me cerca
em território, morada
dou lá pequena ciscada
estufo o peito, ajeito o bico
a língua já anda afinada
que nestas brigas-de-galo
não se bate, não se apanha
não se perde, não se ganha
é só madrugar, alvorada
e de prazer, embolada...