rinha

sou galo sem crista e espora

nascida, não perdi emboscada

não preciso nem tenho terreiro

sou galo de espelho, janela e chuveiro

moro com um leão-de-montanha

e outro bicho solto, que avoa

sou galo de telhado, à toa

sou galo que o canto atordoa

gosto de milho e farinha

como feijão com mostarda

tenho de vime um poleiro

prefiro dormir na lareira

lugar mais quentinho da casa

não tenho amigos nem dono

mas, tenho tino e respeito

não sou domada nem domo

eu já cresci desse jeito

se a coisa aperta até penso

mesmo sem medo sem nada

não sou de galinheiro, me aprumo

tomo distancia, abro asa

e se algum outro me cerca

em território, morada

dou lá pequena ciscada

estufo o peito, ajeito o bico

a língua já anda afinada

que nestas brigas-de-galo

não se bate, não se apanha

não se perde, não se ganha

é só madrugar, alvorada

e de prazer, embolada...

Suzane Rabelo
Enviado por Suzane Rabelo em 28/07/2010
Reeditado em 26/01/2012
Código do texto: T2403588