Rolo de Amassar Pão
É a eterna cantiga daqueles que morrem
sem nunca ter vivido.
Mais que isso, é a ferida aberta na carne
dos que sequer tenham nascido.
Atiram-se às pregas do universo,
procurando, aqui e ali,
a passagem de algum cometa com o qual possam viajar,
ou o choque de algum asteroide que os leve a todos.
Não se prestam a ensinar, posto que ignorantes,
mas no rogo de cada dia pedem por mais pão,
famintos que são de substância
e carentes que são de espírito.
- Atira-te! - grita uma voz irresistível,
que vem de baixo, do âmago mais profundo da mente.
- Atira-te! - grita uma voz infalível,
que vem de cima, das sombras mais sombrias da gente.
Não te atrevas a aguardar,
se o momento derradeiro custa a esmaecer.
Não te tornes inteligível, compreensível,
se a indolência do teu pesar custa a sair de teus pensamentos.
A vida é dura,
ao mesmo tempo em que é lisa.
A vida amacia,
ao mesmo tempo em que machuca.
A vida nos modela,
ao mesmo tempo em que nos desfigura.
A vida é quase que
um rolo de amassar pão.