Dor mais doída

Dizem as más línguas daqui

Que a vida nunca se estende

Além do marco que entende

O espaço entre o aqui e o alí.

Dizem as línguas chulas de lá

Para todos e também para mim

Que o santo padre de acolá

Ouve sermão dum Serafim.

Dizem por todos os cantos

Aos risos, ninguém em prantos,

Que o danado do Vieira

Vestiu paletó de madeira.

E falam que dona Joaquina,

Que morava ali na esquina

E sabia a vida de cor,

Partiu dessa para melhor.

Por outro lado, o povo diz

Daquele incréu e vil ladrão:

- Está agora com indigestão;

Comendo capim pela raiz.

Porém eu digo, companheiro,

Que não há no mundo inteiro

Dor mais doída e sofrida:

Perder pessoa querida.