monólogo de um amor possível
agora não sou o pardal batendo na tua fria janela de vidro
agora não machuco as asas, o peito, fugindo da tempestade
agora não procuro abrigo, ou migalhas do teu bolo de cacau
nem sou mais a cadela triste, morta, que protege tua morada
nem sou mais a serva de veias azuis que arruma o teu ninho
nem mais abrirei cortinas que teimas em mantê-las fechadas
não mais prepararei teu alimento e manterei cheia tua taça
não estarei presente ao adoeceres, nem lhe servirei um chá
não irei ao teu enterro, tampouco plantarei lá novas flores...
acontece que agora sou o sol que adentra teimoso na redoma
que lhe deixa ver, sentir, ao me sentir, além do cristal gelado
sou eu, livrando-te da tristeza, escuridão, da morte, prematura