monólogo de um amor possível

agora não sou o pardal batendo na tua fria janela de vidro

agora não machuco as asas, o peito, fugindo da tempestade

agora não procuro abrigo, ou migalhas do teu bolo de cacau

nem sou mais a cadela triste, morta, que protege tua morada

nem sou mais a serva de veias azuis que arruma o teu ninho

nem mais abrirei cortinas que teimas em mantê-las fechadas

não mais prepararei teu alimento e manterei cheia tua taça

não estarei presente ao adoeceres, nem lhe servirei um chá

não irei ao teu enterro, tampouco plantarei lá novas flores...

acontece que agora sou o sol que adentra teimoso na redoma

que lhe deixa ver, sentir, ao me sentir, além do cristal gelado

sou eu, livrando-te da tristeza, escuridão, da morte, prematura

Suzane Rabelo
Enviado por Suzane Rabelo em 05/08/2010
Código do texto: T2419300