VERTENTE
Chora copiosa vertente
De águas mornas, salobras águas
Que descem singrando sulcos
Por estranhas planícies secas,
Donas de duas covas profundas
Que escondem gritos de assombros que vêem.
Singram pelas faces até a garganta da outra cova atônita,
Ressecada pela sede da água cristalina que nunca bebeu,
Corre queimando a ferida ainda aberta pelo grito da palavra nunca dita:
Parto que se esperava ver o pássaro que nasce voando,
Queima como cáustica sobre a carne recém parida que dói, mas agora é tarde:
Teu pássaro já partiu, está no alto azul, muito longe, muito longe...
Brinca de bale com o vento, livre filho da palavra bendita,
Nada vês além do infinito para o qual foi parido,
Frágil filho da liberdade, tombará,
Eu vi partir teu algoz certeiro
Para o teu peito branco, veloz.