O POETA E A CIDADE 24

O POETA E A CIDADE 24

Aqui, cultivo o tédio.

Cultivo a monotonia desses fins de tarde,

Nessa cidade quase morta.

-- Minha cidade –

Cultivo o manso e lendo estado de solidão.

Cultivo essa vista do seco riacho salgado.

Cultivo a casa do meu pai.

A rua onde cresci,

As pessoas que conheço desde que me entendo pro gente,

Pessoas com seus mundinhos...

Cheio de reais ilusões.

Aqui, cultivo o tédio!

Vendo a as coisas seguindo seus cursos.

Embora às vezes na contra mão,

Mas, seguindo.

Seguindo o caminho já traçado.

Seguindo a vida já oferecida.

Seguindo o óbvio.

Assim, vão.

Assim vejo.

Vejo os alunos do Presidente Médici,

Em azul branco,

Iguais a todos os alunos de qualquer parte do mundo.

Sem noção de tempo.

Sem noção de responsabilidade.

Sem noção de vida...

Mas felizes!

Vejo os políticos nos prostituindo,

E nós gozando.

-- Besta!

Vejo tudo, pois estou em cima do muro!

Só não vejo á mim.

Só não me vejo.

Não vejo,

Pois, estou manso, lento e cheio de tédio.

Não me vejo,

Pois, me dei ao corpo não à alma.

Não me vejo,

Pois, fui pouco.

Não me vejo,

Pois, não honrei meus pais.

Não me vejo...

--- Em salgadinho tudo em mim é conflito! ---

Vejo os débeis me acenando.

Vejo os vermes nos seus carros pretos e vermelhos,

Os Toyotas e suas alegorias humanas.

Os burros e as cabras pastano no seco riacho salgado.

aqui vejo essa cidade,

pobre cidade,

vejo minhas cores, minhas palavras,

vejo-me cada dia...

fora...

perdido...

vejo-me...poeta!

Severino Filho
Enviado por Severino Filho em 06/08/2010
Código do texto: T2422723
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.