VENTO MINUANO

“Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!”

(Fernando Pessoa).

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Minuano, que invade estas coxilhas,

quanto do teu assobio magoado

são ecos distantes de um passado,

de patas de cavalos e tilintar de lanças,

ou brados de guerreiros que tombaram,

e errantes ainda galopam na voz do vento,

enfeitiçando assim estas paragens?

Onde a Província de São Pedro encontra

o solo castelhano, bem no sul do sul,

o vento teima em cavalgar a noite inteira,

junto a pampa dos heróis de tempo idos

as mesmas vozes se mesclam ao som do vento

miragens que assombram o quero-quero

e denuncia o viajor errante com seu grito.

Hirtas ermidas plantadas nas estradas,

cruzes perdidas em meio ao capinzal,

são vestígios obscurecidos pelo tempo

de tantas esfregas, guerras e revoluções.

Agora, em doce calma adormecem em terra nua

maragatos e chimangos descansam em solo amigo

e o minuano, este teimoso, quer trazer de volta

o vozerio encarniçado das peleias.

Minuano, quanto dos teus gemidos são o choro

abafado das mulheres, dos pais e filhos

de quem partiu para a guerra e não voltou?

Quantos homens e mulheres rezaram

mirando ao longe em cansativa espera?

Seus olhos se perderam nas distâncias,

e só tu continuas galopando campo a fora

varrendo o pranto dos que em vão confiaram,

viajando sempre em direção ao nunca mais.

José Luongo da Silveira
Enviado por José Luongo da Silveira em 18/09/2006
Reeditado em 18/09/2006
Código do texto: T243121