monólogo da desesperança

tenho a idade destas rochas, destas águas

e de lírio tenho o nome, prometido em ritual

tenho também o tempo de todos os homens

até dos que já se foram e dos que estão por vir

e o mundo ao me possuir não me possui mais

eu não mais correspondo às expectativas

embora me esforce (quase) desumanamente

embora insista, ninguém vem ao meu encontro

não há retorno, eu sei, não há

não sou vampira, nem louca

expectadora ou não, na cena

em um roteiro que não escrevi só...

possuo nada, nem esperança

tenho a morte que adentrou em minha morada

armou acampamento no quintal, no jardim

dorme com o meu pai e enlouquece minha mãe

quanto sofrimento o meu, que vejo, que sinto

e não ouso mudar a cena, não posso...

e por tanto amor, e dor, atravesso junto

me arremesso, estendo os braços, enlouqueço

fujo, sou a bêbada que vomita sobre teu tapete

pago com o suor e sangue de oprários famintos

e alucinados, enquanto tu requebras nos salões

súdito, de uma realeza imoral, mente comprometida

perceba, teus passos te levarão ao porão, sombrio

mesmo porão onde encontrará teus fiéis servos

contaria a eles se certeza tivesse que entenderiam

que como a ti, não os estou condenando

já estamos todos, condenados...

ai de mim, tenho tão parcas as palavras e tantos sentimentos

malditos, mal ditos...

Suzane Rabelo
Enviado por Suzane Rabelo em 14/08/2010
Reeditado em 24/02/2012
Código do texto: T2437135