monólogo da desesperança
tenho a idade destas rochas, destas águas
e de lírio tenho o nome, prometido em ritual
tenho também o tempo de todos os homens
até dos que já se foram e dos que estão por vir
e o mundo ao me possuir não me possui mais
eu não mais correspondo às expectativas
embora me esforce (quase) desumanamente
embora insista, ninguém vem ao meu encontro
não há retorno, eu sei, não há
não sou vampira, nem louca
expectadora ou não, na cena
em um roteiro que não escrevi só...
possuo nada, nem esperança
tenho a morte que adentrou em minha morada
armou acampamento no quintal, no jardim
dorme com o meu pai e enlouquece minha mãe
quanto sofrimento o meu, que vejo, que sinto
e não ouso mudar a cena, não posso...
e por tanto amor, e dor, atravesso junto
me arremesso, estendo os braços, enlouqueço
fujo, sou a bêbada que vomita sobre teu tapete
pago com o suor e sangue de oprários famintos
e alucinados, enquanto tu requebras nos salões
súdito, de uma realeza imoral, mente comprometida
perceba, teus passos te levarão ao porão, sombrio
mesmo porão onde encontrará teus fiéis servos
contaria a eles se certeza tivesse que entenderiam
que como a ti, não os estou condenando
já estamos todos, condenados...
ai de mim, tenho tão parcas as palavras e tantos sentimentos
malditos, mal ditos...