sangue

tem dias quando acordo

não encontro as minhas mãos

não entendo

sangue escorre em minhas mãos

quem quer a minha alma

quem quererá minha aorta

quem derruba minha árvore, arterial

pulmonar, e o meu sangue já venoso

quem ainda quererá...

por que é que tem gente assim

sem amar

sem ver a quem amar

tenho sangue em minha boca

há ferpas em minha língua

choro, choro seco, sem lágrimas

será dor, e de leprose nem sinto?

terá vampiros à minha espreita

onde estarão minhas lentes

do lado canhoto ou destro

serei pura emoção ou só pensar?

não vejo com clareza, hoje

mas, tem dias, quando acordo

pessoas me parecem menos más

enquanto sonham, sonhos estranhos

melodramáticos, de poder e posses

eu, que não me importo com os dois

que tenho de telhado o céu

que tenho goteiras de chuva e sol

talvez devesse ter cumprido o meu

teria muitas crias, encheria terreno

almas, vivas, nada de pelotão, soldados

nada de guerreiros insanos, uma ordem

nova ordem, homens de liberdade e poesia

mas, alguém cortou os meus pulsos

separou as minhas mãos dos braços

proibiu-me de sentir, de dar abraço

e só vivo cortando a carne

sangrando

sinto sono e não durmo, hoje

sinto fome, sinto frio, sinto sede

sinto saudade, falta, não conhecia

e, pasme, agora, há um quê de poesia

na parede...

Suzane Rabelo
Enviado por Suzane Rabelo em 16/08/2010
Reeditado em 16/08/2010
Código do texto: T2440598