Gestação

Gestação

Angélica T. Almstadter

07-01-05

Ando gestando poesias,

Me despindo de palavras,

Coisas miúdas que já não me cabem,

Certezas que me sabem.

Estou parindo versos e prosas,

Regados com minhas primícias;

Quero cultivar jardins de lavras,

Gerados no ventre das minhas carícias.

Estou prenhe de amor,

Não para parir pessoas,

Nem fetos, objetos ou afetos;

Estou em estado de graça,

Acariciando a alma em flor,

Mimando-me com cânticos e loas,

Enfeitando meus pés e meu trajetos.

Estou grávida de um vulcão,

Desde a última chuva, da última lua.

Em berço alvo e discreto,

Vai nascer um furacão secreto,

Pra romper a cara no dia,

Varrer do meu corpo a agonia,

Pacificar minha fisionomia.

Estou gerando o meu mundo,

Nas fissuras do meu peito.

Vou parir sem dor,

Num rasgo lento e profundo,

O cataclisma mais que perfeito,

O abstrato fruto de silêncios,

De aromas; o meu amor,

Atravessado por milênios

Angélica Teresa Faiz Almstadter
Enviado por Angélica Teresa Faiz Almstadter em 26/01/2005
Código do texto: T2447
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