EU QUERIA

Eu queria poder organizar as minhas idéias.

Colocá-las numa ordem linear.

E, na maior pretensão, eu queria poder organizá-las em folhas de papel.

Assim estaria organizando a minha vida, tão desorganizada e não linear.

Eu queria que fosse assim.

Sem altos, baixos, curvas e tropeços.

Eu queria que fosse reto, pelo meio, proporcional e constante.

Eu queria que tudo fosse matemático.

Uma combinação perfeita de números, tempos, pausas e emoção.

Eu queria poder ter tudo sob controle.

Meus pensamentos, meus desejos, minhas ações e palavras.

Um controle rígido, disciplinado.

Eu queria que todos concordassem com a mesma opinião.

A correta. A segura.

Não necessariamente a minha.

Eu queria um mundo harmônico, com cores que combinassem e cheiros suaves. Como numa música de jazz, tudo se encaixando.

Eu queria uma vida mais leve.

Mais calma.

Mais silenciosa.

Eu queria tudo em caixas.

Coisas, sentimentos, listas e prazeres.

Sempre guardados e disponíveis.

Eu queria distâncias menores e praias com sol.

Sabores de verão e longas reflexões.

Eu queria ter as palavras perfeitas e acreditar sinceramente que ela existem.

Eu queria tudo isso e depois, queria poder quebrar com apenas um suspiro de cansaço, toda a monotonia em que a minha vida teria se transformado.