UM POEMA DO RODOLPHO

O Rodolpho não freqüenta o Recanto das Letras, e nem publica nada neste site.

Com isso, os que apreciam a boa literatura, ficam privados de ler a produção desse poeta e escritor.

Por esse motivo, tomei a liberdade de trazer aqui um poema do Rodolpho que, a meu ver, diz tudo sobre todos nós.

Leiam e digam se estou errada.

“NA MADRUGADA”

Quadros opacos, disformes e confusos

Sensações difusas e desencontradas

Em cantos remotos de mim mesmo

Ao despertar no despertar da madrugada.

As incertezas de um dia incerto

Numa existência desconexa

Dias sem data e sem nome

Dias de um calendário infernal.

Penso em suicidas e assassinados

Em milhares de corpos mortos amontoados

Nas guerras napoleônicas e em muitas guerras.

Penso nos gritos dos que vão morrer

Nas quedas dos aviões que despencam na noite

Pondo fim a uma viagem e a todas as viagens.

Penso na fuga da morte

E caio na gargalhada e zombo

De tanta covardia e desespero.

Nas maternidades, bebês continuam nascendo

Feios, enrugados e sem nome ainda

Alvos de projetos e de sonhos

De festas de aniversários e de decepções finais

Velhos futuros e futuros funerais.

O fim da madrugada anuncia a alvorada

De mais um dia cheio de horas

De mais um dia de incertezas

De mais um dia, apenas mais um dia

Na seqüencialidade da rotina e da monotonia.

E todos querem ser alcoólatras

Para matar as angústias que habitam

Corpos semi-vivos ansiosos por morrer

E com pavor da morte.

Vou resolver equações matemáticas

Sonhar com prazeres sexuais ou alimentares

Sonhar com viagens a lugares distantes

Tudo menos o terror do aqui

Tudo menos presenciar e continuar ficando

Na companhia do agora.

MILIPA
Enviado por MILIPA em 02/09/2010
Código do texto: T2474380